É assim que a cabeça do adolescente ficou após ter a sua cabeça raspada um facão - Créditos: Arquivo pessoal

“Ele [policial] meteu o facão na cabeça do meu filho, batia nele com o facão e apontando a arma na cara dele. Ele tem 15 anos”. É assim que a mãe de um adolescente morador da favela do Dique do Caixetas, em São Vicente, conta como seu filho foi abordado pela polícia, dentro da própria casa, no dia 15 de fevereiro.

Os familiares acusam os policiais militares do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) de terem raspado a cabeça do menor de idade. Em contrpartida, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou não ter encontrado nenhuma denúncia sobre o caso. A família se justificou, ao dizer que tem medo de registrar a ocorrência.

Em um relato emocionante, a irmã e a mãe da vítima contaram como se sentem inseguras morando em uma favela durante a 3ª Fase da Operação Verão, deflagrada após o assassinato do PM da Rota, Samuel Wesley Cosmo, baleado no rosto, no dia 2 de fevereiro, e que soma 27 mortos em menos de 15 dias.

No momento da abordagem, cinco menores de idade e um rapaz de 18 anos estavam no local. A irmã da vítima, de 24, havia ido ao mercado quando, segundo ela, os policiais entraram no imóvel. A mulher explicou que sua mãe ligou avisando sobre o que estava acontecendo e ela retornou imediatamente. “Eles [policiais] estavam com a porta trancada. Empurrei perguntando o que estava acontecendo e perguntaram quem eu era, meu nome, idade e se trabalho”, relembrou a mãe.

Em seguida, um dos agentes pediu para que a mulher pudesse entrar no local e “contasse” o que sabia. Segundo ela, os policiais queriam uma confirmação sua de que o adolescente já havia sido preso, mas, como isso não aconteceu, os homens de farda deixaram o local.

Logo após a abordagem truculenta, ela viu o seu irmão com a cabeça raspada e sangrando. Assim, questionou sobre o motivo da ação violenta. “O medo de ir atrás deles [PMs] e falar alguma coisa é maior ainda, né? […] Eles acham que todo mundo que mora na favela é bandido, traficante, mas não é”.

Segundo a mulher, após ter sido agredido pelos policiais, o irmão abrigou-se na casa de outro parente e não tem ido à escola por medo. “É uma opção de vida que a gente tem. É o que a gente pode bancar. Não é porque a gente gosta de ficar ali naquele meio e confusão. […] As crianças ficaram se tremendo, com medo, todo mundo chorando sem entender porque tinha acontecido aquilo”, afirmou.

A família justifica não ter feito o Boletim de Ocorrência pelo medo das possíveis represálias dos agentes policiais na favela. “Espero que essa operação termine, porque está acabando com a vida de todo mundo. Ao invés de correrem atrás dos bandidos, que fazem coisa errada com eles, estão matando muita gente inocente e trabalhadora”.

Insegurança

Auxiliar de limpeza, a mãe diz que se sente insegura de sair para trabalhar e deixar seus filhos sozinhos em casa. “A qualquer momento eles podem entrar na minha casa e fazer o que quiserem”.

Desacreditada e com medo das incursões policiais na comunidade onde mora, a mulher prefere se silenciar, pois, segundo ela, seria a palavra da família contra a dos policiais. “A gente se sente inseguro. Quem deveria estar defendendo a gente está nos humilhando”.

O que diz a SSP-SP

Em nota, a SSP-SP informou que, até o momento, não houve qualquer denúncia sobre o fato, e que a Corregedoria da Polícia Militar está disponível para receber denúncias sobre a atuação policial.

Segundo a pasta, as forças de segurança do estado são instituições legalistas que atuam no estrito cumprimento do seu dever constitucional, e suas corregedorias também estão à disposição para formalizar e apurar toda e qualquer denúncia contra agentes públicos, reafirmando o compromisso com a legalidade, os direitos humanos e a transparência.

A SSP-SP também comunicou que, desde o início da 3ª fase da Operação Verão, em 7 de fevereiro, foram presos 665 criminosos, incluindo 247 procurados pela Justiça. Além disso, foram apreendidos 156,3 quilos de drogas e 79 armas ilegais, incluindo fuzis de uso restrito.

A Polícia Militar também foi contatada, mas não retornou.

Com informações do G1