Guilherme Derrite insinuou que o funcionário público baleado pela PMe não seria um "munícipe do bem" - Foto: Reprodução

A família do funcionário público Ruan Araújo, baleado por um policial militar (PM) no Parque Bitaru, em São Vicente, no dia 9 de fevereiro, pretende mover um processo contra o secretário estadual da Segurança Pública, Guilherme Derrite, por calúnia ou difamação.

O que motivou a ação foi uma mensagem trocada entre Derrite e um conhecido da família por redes sociais, na qual o secretário afirma que Ruan não seria um “munícipe de bem”.

Em prints da conversa, é possível ver que Derrite, a princípio, esclarece que a ação que feriu o funcionário público não tinha relação com a “operação de combate ao crime organizado na Baixada Santista”, em alusão à terceira fase da Operação Verão (Operação Escudo). O secretário afirma que os PMs, que haviam sido acionados para uma ocorrência nas proximidades, intervieram após uma investida de Ruan.

Na sequência, o conhecido dos familiares da vítima rebate. “Esperamos o que a justiça vai dizer […]. Não apoiamos de maneira alguma ações de crime e bandidagem, mas há uma separação entre o munícipe de bem e o outro lado, que fique claro”. Derrite, por sua vez, contestou a resposta. “Só cuidado com o ‘munícipe de bem’, pois nesse caso não é. Procure informações sobre esse cidadão”, concluiu o secretário.

Indignada, uma pessoa da família de Ruan falou que a postura do secretário nas mensagens é “totalmente inaceitável”. “Ele é uma pessoa pública, e deveria ter mais cuidado ao se pronunciar em relação a um caso como esse, que ainda está sendo apurado, o inquérito está em aberto”, afirmou.

Conforme o mesmo parente da vítima baleada, os prints chegaram ao conhecimento da família na manhã de sábado (10), um dia após o ocorrido. “Tudo ainda estava muito recente, e ele se pronunciou falando que o Ruan não é um munícipe de bem. Como ele pode provar isso? Ele é um trabalhador, funcionário da prefeitura, e estava ali coordenando uma equipe de mais ou menos 20 homens, todos uniformizados”, protestou.

O familiar ressaltou, além disso, que Ruan não tem nenhuma passagem pela polícia. “É revoltante e, ao mesmo tempo, muito triste ler isso. Você vê que nossas autoridades já se posicionam sem provas, e isso é um absurdo”, desabafa.

Na Justiça

Devido às declarações de Derrite nas redes sociais, os familiares de Ruan devem mover um processo contra o secretário estadual da Segurança Pública. “Iremos processar o secretário Derrite por essa afirmação, por essa declaração pública que ele fez. Ele vai responder por calúnia ou difamação e vai responder, também, na esfera cível uma reparação por danos morais”, disse Rui Elizeu, advogado que representa a família da vítima.

“Essa nossa luta não é contra os policiais. Queremos deixar claro que o policiamento é muito importante para a sociedade. Nossa luta é contra policiais como esse que abordou o Ruan, que ataca de forma bruta e cruel moradores da periferia, sem ao menos se informar quem é a pessoa”, esclareceu a pessoa da família.

Secretaria se posiciona

Em nota, a Secretaria Estadual da Segurança Pública (SSP) afirmou que “o secretário Guilherme Derrite se referia ao fato de que munícipes de bem não agridem policiais em serviço”. Veja a íntegra:

“Todas as circunstâncias relativas ao caso citado são investigadas por meio de inquéritos instaurados pela Delegacia de São Vicente e pela Polícia Militar. Os exames periciais na arma do policial já estão em andamento, assim como o processo de coleta dos depoimentos de todas as partes envolvidas.

A Corregedoria está disponível para apurar qualquer acusação contra agentes da instituição. Em sua rede social, o secretário respondeu a uma interação e fez menção ao fato de nenhum cidadão, seja ele quem for, deve agredir policiais em serviço”.

Relembre o caso

Ruan Araújo, que exerce o cargo de coordenador na secretaria de Serviços Públicos de São Vicente, foi baleado duas vezes por um policial militar durante diligência no Parque Bitaru, em São Vicente, na tarde de 9 de fevereiro.

O incidente ocorreu durante abordagem da população, quando teve início uma confusão generalizada. Em imagens que circulam pelas redes sociais, é possível ver diversos moradores se reunindo em torno de um grupo de PMs na Rua Primavera. Entre eles, estava Ruan, que acabou sendo baleado na perna e, em seguida, no tórax, após discutir com um policial.

De acordo com a prefeitura de São Vicente, o funcionário público, que tem 27 anos, foi levado ao Hospital do Vicentino, onde deu entrada após ser socorrido pela equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Conforme a Secretaria de Saúde de São Vicente (Sesau), o paciente deu entrada no hospital consciente, foi estabilizado e recebeu os primeiros atendimentos emergenciais. Foi necessária a realização de um procedimento de drenagem cirúrgica do tórax, visto que um dos projéteis atingiu o pulmão de Ruan.

Na noite de sábado (10), ele foi transferido para a Santa Casa de Santos. Segundo a Sesau, no momento da transferência ele estava estável e em condições de ser transportado.

Em contato com a família do funcionário público, o site de A Tribuna apurou que o homem está sedado e intubado, mas estável. A bala que atingiu o tórax ficou alojada no pulmão direito da vítima, e os médicos avaliam a possibilidade de um novo procedimento cirúrgico.

 

Com informações de A Tribuna