Givanildo tinha 65 anos e levava uma vida pacata; o pênfigo vulgar foi sua luta derradeira Foto: Arquivo Pessoal

A família do carpinteiro aposentado Givanildo Alves Guerra, de 65 anos, reclama que a falta de um atendimento mais eficiente foi a causa da morte do idoso, que aconteceu na última segunda-feira (22). Eles acusam o Hospital do Vicentino de negligência, por não realizar um exame de endoscopia, devido a uma suposta falta de profissionais no final de semana.

Segundo a Declaração de Óbito, as causas da morte são “choque hemorrágico, hemorragia digestiva e úlcera gástrica”. Um dos filhos, o segurança Márcio Alves Guerra, conta que o pai teve o quadro clínico agravado nos últimos dias, em função de forte medicação que tomava para combater o pênfigo vulgar (doença autoimune rara e grave, na qual bolhas de diversos tamanhos surgem sobre a pele e o revestimento da boca e outras membranas mucosas).

A enfermidade foi incialmente tratada como afta e, posteriormente, micose. Com lesões no sistema hepático, Givanildo passou a vomitar e evacuar sangue. O exame de endoscopia ajudaria a dar um norte ao tratamento.

O carpinteiro aposentado ficou internado no Pronto Socorro do Rio Branco, em São Vicente, entre os dias 10 e 19 de janeiro, quando recebeu alta. Nesse período, permaneceu na área de isolamento à base de soro. Após a alta, ainda no dia 19 de janeiro, retornou à noite ao PS, já com quadro de vômitos. Os médicos que o atenderam passaram a buscar, com urgência, uma vaga de UTI, com as recomendações de endoscopia e transfusão de sangue, mas esbarraram na Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross), sistema que tem por finalidade operacionalizar as ações de regulação da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Mas a vaga não veio até a tarde do último domingo (21).

“Tive que dar um jeito para conseguir essa vaga. Ele deu entrada no Hospital Vicentino ao meio-dia de domingo (21) na UTI, mas me disseram que não iam poder fazer endoscopia, porque era final de semana e, na segunda (22), era feriado (aniversário da cidade). O que eu aleguei? Tem dia para ficar doente? Porque um hospital é 24 horas. Não é uma clínica particular. Se não tem médico na hora, ele precisa estar de sobreaviso – apareceu uma urgência, se locomover e ir até lá. O hospital tem o equipamento”, conta Márcio.

Sem poder se alimentar pelas condições de agravamento do pênfigo vulgar, que “estourou” a boca, e sem ingerir água, Givanildo morreu às 18h15 desta segunda-feira (22). “Além de pagar plano de saúde e os impostos, pagamos para viver. Quando o cara precisa, passa por isso, se humilha para os outros. Não quero isso para outra família”, diz o filho.

Outro lado

A reportagem de A Tribuna pediu posicionamento para a Prefeitura de São Vicente sobre o caso, mas, até a publicação da matéria, não obteve resposta. Assim que for enviada, será acrescentada ao texto.