O sistema alimentar hegemônico é monopolizado por grandes empresas e se fundamenta na concentração da terra, produção de fertilizantes, agrotóxicos e sementes, assim como da distribuição de alimentos. Esse modelo não corresponde às necessidades da produção que respeita o meio ambiente e oferta alimentos livres de agrotóxicos, sendo responsável, inclusive, por impactos que contribuem para as mudanças climáticas. Além disso, a soberania alimentar das comunidades é eliminada e se oferta alimentos de péssima qualidade nutricional. Tudo isso com o objetivo de maximizar lucro.
No entanto, outro sistema alimentar é construído com pessoas que se organizam para produzir, distribuir e consumir alimentos que seguem uma lógica diametralmente oposta a do agronegócio, com a oferta de uma alimentação saudável e valorização do ser humano e do meio ambiente. São os circuitos alimentares de proximidades.
Esses circuitos são sistemas integrados por produção, distribuição e consumo em que os produtores, comumente de forma associada, vendem produtos orgânicos diretamente aos consumidores ou tendo no máximo um intermediário, o que possibilita o acesso a produtos livres de agrotóxicos. Diferenciam-se dos circuitos fundamentados nas regras do mercado convencional pelo fato de o dinheiro, o lucro, não ser o fator determinante para a sua organização. Representam uma inovação social com base nos princípios e valores da economia solidária, pois são autogestionários, ou seja, sem patrões. Há cooperação entre as pessoas e as regras de funcionamento são definidas de forma democrática.
Há autores que utilizam o termo circuitos curtos alimentares. Neste caso, consideram-se, também, todas as formas de organização que ativam a proximidade geográfica entre produção e consumo por uma questão de facilitação da logística, não importando se há propósito coletivo quanto à qualidade dos alimentos e do meio ambiente e se valorizam a cooperação ou uma visão utilitarista nas relações.
A utilização do termo circuito alimentar de proximidades fundamenta-se na ativação da proximidade geográfica, mas também em outras proximidades, como: cultural, de propósitos e organizada. Esse fato proporciona o estabelecimento de vínculos sociais entre as pessoas que produzem, distribuem e consomem. Assim, criam-se relações interpessoais com base na confiança, respeito e reciprocidade. Portanto, se diferenciam da relação que limita as trocas de alimentos por dinheiro, orientadas pela lei da oferta e demanda, caracterizada pela impessoalidade.
Os propósitos dos circuitos alimentares de proximidades colocam em relação não somente as pessoas que produzem e aquelas que objetivam consumir alimentos saudáveis, mas também militantes de diferentes movimentos sociais que lutam por uma sociedade mais justa, solidária e igualitária. Esse fato impulsiona a organização de empreendimentos econômicos solidários que integram a produção, distribuição e consumo, constituindo verdadeiras inserções contra-hegemônicas no seio do sistema capitalista.
O objetivo das pessoas que participam desses circuitos é construir a agroecologia, considerada ciência e movimento que valoriza a agricultura familiar, a biodiversidade, a autogestão, a segurança alimentar e a soberania alimentar. Portanto, não significa apenas o consumo de produtos orgânicos. Além disso, promove a mobilização comunitária e cria oportunidades para as mulheres agricultoras e trabalham nos quintais agroecológicos.
Os circuitos alimentares de proximidades podem ser hortas comunitárias, grupos de consumo responsável, comunidades que sustentam a agricultura, feiras de produtos orgânicos e economia solidária, armazéns e mercados de produtores, barraca coletiva de agricultores familiares, feiras de trocas de sementes e, também, as compras públicas, como: Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) nas suas diferentes modalidades, Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social (PPAIS) e programas de compras criados por algumas prefeituras com recursos próprios. Para conhecimento das características de cada tipo de circuito, assim como de referenciais teóricos que possibilitam compreender como emergem, há a publicação intitulada Circuitos Alimentares de Proximidades e a Economia Solidária, que pode ser acessada no link.
Há em todo o mundo uma tendência de crescimento da organização de circuitos alimentares de proximidades. Esse fenômeno impulsiona e é impulsionado pela economia solidária.
Na Baixada Santista não é diferente, pois há 27 empreendimentos de economia solidária que são caracterizados como circuitos alimentares de proximidades. O fortalecimento desses coletivos é de fundamental importância para a construção de um projeto humanista de sociedade e que respeite o ambiente e os demais seres vivos. Esses circuitos reduzem o impacto ambiental por não utilizarem fertilizantes sintéticos e agrotóxicos, assim como aquele dos gases de efeito estufa relacionado ao transporte para distribuição dos alimentos, pois as distâncias percorridas não são expressivas.
No dia 24/03, domingo, das 11h às 18h, o Sesc de Santos organizará, na sua sede localizada na rua Conselheiro Ribas, 136 – bairro Aparecida –, uma mostra e venda de produtos por empreendimentos econômicos solidários que são caracterizados como circuitos alimentares de proximidades ou têm relação com esses circuitos com o objetivo de fortalecê-los.
A partir das 15h haverá rodas de conversa com representantes de onze empreendimentos: Horta Comunitária Bons Frutos (Santos), Horta Comunitária Santa Cruz dos Navegantes (Guarujá), Composta e Cultiva (Santos/São Vicente), Comunidade que Sustenta a Agricultura Acerola (Santos), Comunidade que Sustenta a Agricultura Ecosofia (Santos), Team Guaiçara – Mel e Derivados de Abelhas Nativas (Caruara – Santos), Sabores da Serra Culinária Afetiva (Cubatão), Cota Viva (Cubatão), Rede Livres Baixada Santista (Santos), Espaço Marielle Franco (Santos) e Coletivo Verde América (Praia Grande).
Trata-se de uma excelente oportunidade para as pessoas conhecerem e se engajarem concretamente em processos que melhoram a qualidade de vida das suas famílias e da sociedade.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do Folha Santista.