Foto: Polícia Militar

Moradores do Jardim São Manoel, em Santos, denunciaram, nesta segunda-feira (4), a violência e a intimidação sofridas nas abordagens de policiais militares da Tropa de Choque que atuam na Operação Verão. Além disso, os PMs estariam invadindo e arrombando residências sem mandado judicial. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) se pronunciou sobre os relatos.

Conforme pessoas da comunidade, que não quiseram ser identificadas por motivos de segurança, a Polícia Militar tem oprimido os moradores e trabalhadores, para encontrar os responsáveis pela morte de um policial não identificado. Os agentes também questionam as pessoas para localizar pontos de tráfico de drogas.

O receio de alguns moradores e trabalhadores é quanto à possibilidade de os policiais forjarem provas. “Minha vizinha viu eles entrarem em casa com uma mochila e saírem sem (ela). Quando cheguei, notei que eles tinham arrombado as portas e revirado tudo”, relatou um trabalhador.

Assustado e com medo de que os militares voltassem, o denunciante preferiu dormir em outro lugar até saber qual atitude tomar. “Eles já foram outras vezes em casa. Eles passam olhando pela janela e entram em todas as casas, sem exceção. Não apresentam nenhum documento, mandado judicial, nada”, contou.

Ouvidoria da polícia

O ouvidor das policiais de São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, esteve na Baixada Santista, no domingo (3), para ouvir familiares de “suspeitos” que perderam a vida na Operação Verão. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), 39 pessoas morreram em supostos confrontos com policiais até o momento.

Cláudio da Silva visitou São Vicente e Cubatão e recebeu relatos de que policiais militares estiveram no enterro de uma das vítimas da Operação Verão e de invasão a uma residência sem mandado judicial.

O ouvidor observou um sinal de intimidação e medo em relação à ação policial na região, uma vez que havia programado conversar com cinco pessoas, mas apenas duas compareceram.

“O que essas pessoas estão vivendo é isso: além da ação truculenta que a gente conseguiu aferir que está acontecendo, pois é muita gente falando a mesma coisa, nós temos percebido que, no pós-ação, há um processo de terrorismo com a população, para que não possa dizer o que está vivenciando”, detalhou.

Ainda em São Vicente, uma moradora, que também não quis se identificar, citou como os policiais agem na comunidade do Dique das Caixetas. “A viatura aborda qualquer um. Fazem tortura psicológica quando não conseguem nada. Começam a dar murro no estômago, cutucam a pessoa com fuzil para que fale algo. Só que ela é inocente. Hoje, você tem medo de ir ao mercado, de ir à padaria, porque, a qualquer momento, podem te abordar”.

A ouvidora nacional do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Luzia Cantal, também esteve presente e disse ter encontrado dificuldade em associar os relatos narrados pelos moradores com a versão fornecida pela SSP.

“Existe um confronto muito grande entre as narrativas das forças policiais e as dos familiares. Então, nós estamos aqui para poder ouvir, observar e tomar os encaminhamentos que entendermos serem necessários”, disse.

O que diz a SSP

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) se limitou a dizer que as forças de segurança atuam no estrito cumprimento do seu dever constitucional.

“Todos os casos de morte em confronto são rigorosamente investigados pelas polícias, com acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário. As corregedorias das instituições estão à disposição para formalizar e apurar toda e qualquer denúncia contra os agentes públicos. Os casos de mortes em decorrência de intervenção policial (MDIP) são consequência da reação violenta dos criminosos ao trabalho da polícia no enfrentamento do crime organizado. Em todos os casos citados, foram apreendidas armas e drogas com os suspeitos”.

Ainda conforme a SSP, desde o início da Operação Verão, 837 criminosos foram presos, incluindo 315 procurados pela Justiça. Também foram apreendidos 577,6 kg de drogas e 90 armas ilegais, incluindo fuzis de uso restrito.

Até o momento, 39 pessoas morreram em supostos confrontos com a polícia, entre elas Rodrigo Pires dos Santos, conhecido como Danone, apontado como líder de uma facção criminosa envolvida com o tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro, tribunal do crime e atentado contra agentes públicos.

Com informações de A Tribuna.