José Marcelo Neves dos Santos - Foto: Arquivo Pessoal

Tainara da Cruz, de 25 anos, saiu de casa desesperada à procura do marido na noite de 11 de fevereiro, domingo de Carnaval. O ajudante de pedreiro José Marcelo Neves dos Santos, de 31, havia saído da residência, na Vila dos Criadores, Zona Noroeste de Santos, e disse que iria comprar gasolina no posto mais próximo. Nunca mais voltou.

Após rodar o bairro durante a madrugada sem sinal do marido, Tainara teve notícias somente na manhã seguinte: ele estava morto, no Instituto Médico Legal (IML) de Praia Grande, com o rosto desfigurado. “Não me deixaram ver o corpo, me despedir dele. Tive que reconhecer o corpo por foto, por uma tatuagem que ele tinha no braço”, denuncia a mulher.

José Marcelo Neves dos Santos foi um dos 39 mortos durante a Operação Verão, da Polícia Militar, na Baixada Santista, de acordo com a contagem da Secretaria da Segurança Pública. Na versão de policiais da Rota, que atuaram na ocorrência, ele teria “demonstrado nervosismo” diante da presença dos PMs e começado a atirar contra eles, que revidaram. Ele chegou a ser levado para a UPA da Zona Noroeste, mas não resistiu.

A versão é questionada por Tainara e vizinhos. A mulher afirma que, logo após o marido sair de casa, por volta das 21h, recebeu mensagens em um grupo de moradores da comunidade no WhatsApp. Diziam que policiais da Rota foram vistos enquadrando um homem em uma rua próxima. Na sequência, sons de tiro foram ouvidos.

“Quando chegaram às mensagens no grupo dos vizinhos, eu saí de casa e comecei a rodar a vizinhança. Teve gente que disse que viu um homem sentado do lado dos policiais. Mas quando eu fui lá não tinha mais ninguém. Procurei a noite toda e nada”, relembra ela.

“De manhã fui até a casa da mãe dele, avisei ela, e continuamos a procurar. Fomos no 5º DP, na Santa Casa, na UPA, e nada de notícias. Decidimos ir no IML e ele estava lá”, continua Tainara.

Segundo a mulher, José Marcelo não tinha arma de fogo. Ela denuncia que o armamento citado pelos policiais no boletim de ocorrência (BO) foi “forjado”. “Meu marido era ajudante de pedreiro, tinha três filhos pequenos, era evangélico”, relata.

Rosto irreconhecível

“Na hora do enterro, eu pedi para ver o corpo. Porque o caixão tinha sido lacrado. No finalzinho a moça abriu. Não tinha boca, não tinha queixo, não tinha nada. Tava sem toda a mandíbula, com o rosto todo enfaixado, preto. Judiaram muito dele”, lamenta.

Clima de terror

De acordo com Tainara, o clima é de tensão na Vila dos Criadores. No dia 9 de janeiro, a mãe de José Marcelo teria sido atingida por um tiro de raspão durante uma ação policial na comunidade. “Os estilhaços acertaram a perna dela, a barriga. Ela precisou levar uns quatro pontos”, denuncia. “A gente tem medo de sair na rua, andar por aí. Depois do que aconteceu, a sensação é de que pode acontecer de novo”.

Tainara fala também que, na semana anterior à da morte de José Marcelo, policiais estiveram na casa do casal. “Eles vieram aqui no bairro, entraram em algumas casas. Foi por volta de umas 16h. Na nossa, pediram para a gente sair, fizeram um monte de pergunta e liberaram. Perguntaram se ele tinha passagem, e ele disse que teve, há 13 anos, mas que agora trabalhava como pedreiro”, conta.

Com informações do Metropóles.