Foto: Divulgação/Polícia Militar

Um homem morto pela Polícia Militar (PM) no Morro São Bento, em Santos, na noite de 9 de fevereiro, foi fotografado cerca de uma hora antes de muletas, sentado na calçada. A PM diz que ele atirou contra policiais.

O que aconteceu

A foto obtida pelo UOL mostra Leonel Andrade Santos ao lado das muletas, às 20h03 de 9 de fevereiro. Ele foi morto após ser baleado em uma operação policial no local, às 21h, segundo consta em boletim de ocorrência (BO). Além dele, Jefferson Ramos Miranda morreu na mesma ação, também atingido por disparos da PM.

“A foto é mais um indício de que o meu marido estava desarmado, só com as muletas e o celular. O Leonel não tinha nem condições para segurar um revólver. Ele mal conseguia segurar as muletas dele. Não houve troca de tiros”, relatou Beatriz da Silva Rosa, esposa de Leonel.

Em vermelho, Leonel Andrade Santos, de muletas, em frente à própria casa – Foto: Reprodução

Moradora tirou foto para indicar local de uma entrega

A foto foi feita por uma moradora para auxiliar um motoboy a localizar onde ela morava e fazer uma entrega. “Eu estava na rua esperando um motoboy, e o Leonel acabou aparecendo. Minutos depois, aconteceram os tiros”, disse a testemunha, que não se identificou. “A foto é mais uma prova de que não houve confronto. Moramos em um bairro humilde, mas tranquilo. Não há traficantes armados andando pela rua”, acrescentou.

Parentes das vítimas e moradores do bairro contestam versão da PM

Moradores do bairro contestaram a versão das forças de segurança, ao negar que os homens mortos estivessem armados. Apesar de terem presenciado às cenas e os disparos, as pessoas afirmaram que não foram procuradas pela Polícia Civil para prestarem depoimento sobre o caso.

“Temos também imagens da vítima com muletas. A Ouvidoria instaurou procedimento nesse caso. Estamos sistematizando as informações colhidas com testemunhas e vizinhos. Todo o material será encaminhado à Corregedoria da PM e ao Ministério Público para contribuir com as apurações”, disse Cláudio Silva, ouvidor das polícias de SP.

São 43 mortes em pouco mais de um mês. Assim, a ação da PM no litoral é a mais letal de São Paulo desde o massacre do Carandiru.

SSP mantém versão

A SSP manteve a versão de que Leonel e Jefferson foram mortos porque teriam apontado armas para os PMs. Questionada, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou, em nota, que os agentes foram ao local para atender uma denúncia de tráfico de drogas.

“PM é legalista e atua no cumprimento do seu dever constitucional”, disse. A pasta também ressaltou que as corregedorias da PM e da Polícia Civil estão à disposição para formalizar qualquer denúncia contra os seus agentes.

Além da apreensão de armas e drogas, a autoridade policial alegou que Leonel e Jefferson foram levados ao hospital, mas não teriam resistido aos ferimentos.