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O diretor regional de ensino da secretaria de Educação de São Paulo, João Bosco Arantes Braga Guimarães, responsável pelas cidades de Bertioga, Guarujá, Cubatão e Santos, está sendo acusado por colegas de exigir desvio de função.

Durante uma reunião remota sobre o planejamento escolar para 2021, João Bosco sugeriu que supervisores e professores das suas respectivas escolas peguem roçadeiras e vão carpir o mato.

“Pega lá uma roçadeira, as vezes foram três supervisoras na escola. Dá uma roçadeira pra cada uma e vamos roçar o mato. Os PCNPs (Professor Coordenador de Núcleo Pedagógico) estão lá na escola, já deu a parte deles de serviço, porque nós temos toda a semana que vem ainda, não tem aula semana que vem. Tem só planejamento. Ai os PCNPs deram uma chegada na escola, dois ou três PCNP, a roçadeira tá lá parada, já pega a roçadeira e vai lá limpar”, afirmou.

A deputada estadual e presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel (PT-SP), reagiu ao vídeo com críticas ao secretário de Educação do governo do Estado: “Vejam como um capataz de Rossieli Soares quer transformar professores em faz-tudo nas escolas, para mascarar o descaso e a falta de funcionários. Não à volta às aulas presenciais sem vacinação e sem condições estruturais para a segurança sanitária nas escolas! Em defesa da vida”, disse.

O Diretor Estadual da Apeoesp no Estado São Paulo e Baixada Santista, Benedito Chagas, lembra que o governador João Doria foi eleito fazendo campanha vestido de gari varrendo as ruas. “É lamentável ver um vídeo desses. Mas, quer fazer um bom trabalho, enfrenta a situação e não faça um papel de vassalo. É assim que ele quer que os professores se comportem e nós não vamos admitir isso em hipótese alguma”.

Fernando Cássio, professor da UFABC, integrante da Rede Escola Pública e Universidade (REPU) e dirigente da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação foi direto ao assunto: “Talvez fosse o caso de ele mesmo pegar a roçadeira e ir capinar as escolas, já que a ausência de funcionários é responsabilidade do dirigente”.

O dirigente aponta a responsabilidade. De acordo com ele, em 2018, nos primeiros meses do governo Doria, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo substituiu diversos dirigentes de ensino (ao todo, no estado, são 91 DEs) por pessoas politicamente mais alinhadas ao novo governo. O que se vê, no entanto, é que diversos dirigentes são bastante despreparados para as funções que ocupam”.

“Há escolas sem equipes de limpeza, sem merendeiras, sem zeladoria, etc. Tudo isso ocorre pela falta de contratos de prestação de serviços terceirizados, modalidade de contratação adotada pelo governo paulista para as atividades-meio. Essas constatações só reforçam o cinismo do dirigente, que estimula supervisores/as a capinarem a escola pela falta de funcionários cuja responsabilidade é dele próprio”, adverte.

O que diz a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo

Em nota enviada ao Folha Santista após a publicação da matéria, a pasta afirmou que o dirigente regional “se expressou de maneira inadequada”.

Confira a íntegra.

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) esclarece que o dirigente regional de Santos se expressou de maneira inadequada durante a reunião. As escolas da rede estadual possuem contratos com empresas de limpeza para a realização deste tipo de trabalho, inclusive através de investimentos como o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE). Em 2020, as 5,1 mil escolas estaduais receberam R$ 700 milhões pelo Programa Dinheiro Direto na Escola de SP. A verba foi destinada para manutenção e conservação das unidades para a volta segura das aulas presenciais. Outros R$ 700 milhões já foram liberados para os preparativos do ano letivo de 2021. O dirigente será reorientado e está à disposição para esclarecimentos“.