Foto: Reprodução/Globonews

As investigações da explosão no Porto de Beirute, no Líbano, que deixou mais de 100 mortos e 4.400 feridos apontam que uma carga de 2.750 toneladas de nitrato de amônio é o provável responsável pela violência da explosão.

Embora seja empregado também, em alguns casos, na mineração e em explosivos civis, o composto químico é usado principalmente como fertilizante, na produção de alimentos. A substância não é explosiva, mas o armazenamento incorreto já causou tragédias na França (2001 e 1947), na China (1998) e nos EUA (1947).

O Folha Santista apurou que o nitrato de amônio também é produzido em Cubatão, no Complexo Industrial da Yara Fertilizantes. A empresa, especializada em fertilizantes agrícolas, atua em escala global na produção, mistura, armazenamento e distribuição do insumo.

Em 2017, a substância provocou uma explosão na unidade. Na época o complexo era da Vale Fertilizantes, que vendeu as instalações em 2018. Uma nuvem tóxica laranja chegou a cobrir áreas próximas.

A reportagem não conseguiu contato com a Yara. Para quem mora próximo de uma das unidades da empresa no país, o telefone 0800-8801885 está disponível para dúvidas, reclamações e sugestões.

O nitrato de amônio também é movimentado e armazenado no Porto de Santos, conforme revelou o Folha Santista. Principal porta de entrada da substância no país, o cais santista já recebeu 161 mil toneladas só em 2020. A Autoridade Portuária de Santos (SPA) garantiu, em nota, que todas as medidas de segurança são atendidas.

“A movimentação ocorre no Terminal Marítimo do Guarujá (Termag), localizado na margem esquerda do Porto (Guarujá). O produto armazenado nesse terminal é o nitrato de amônio Classe 5 (oxidante), destinado ao uso agrícola, com o monitoramento rigoroso da temperatura e umidade, rotatividade dos volumes armazenados e misturado a calcário, para dar maior estabilidade ao produto. Não é estocado por longos períodos, sendo basicamente uma operação de transbordo direto dos navios para caminhões”, disse a SPA.

Segundo especialistas consultados pela reportagem, o nitrato de amônio não é um explosivo por si só. Ele se apresenta como um pó branco ou em grânulos solúveis em água e é seguro, desde que não aquecido ou em contato com alguma faísca. As características demandam, porém, rígidas medidas de segurança e monitoramento.

Todos os fertilizantes à base de nitrato de amônio também são, em condições normais, substâncias estáveis, não inflamáveis e não apresentam risco. Eles podem se decompor também apenas em condições inadequadas de calor, contaminação ou armazenamento. Caso isso ocorra, o nitrato de amônio pode causar aumento da intensidade do fogo ou mesmo explosões, gerando uma fumaça que é tóxica.

Ibama vai rastrear produtos perigosos

Na última quinta-feira (6), o Ibama (Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis) anunciou que vai rastrear a armazenagem e a operação de produtos químicos perigosos no Porto de Santos. O plano foi ativado após da explosão na área portuária da capital libanesa.

Segundo o Ibama, já foram registradas ocorrências de acidentes e descarte irregular, além de 115 cilindros contendo substância tóxicas ou explosivas “esquecidos” por 22 anos no cais santistas, que foram encontrados em 2017.