Foto: Governo do Distrito Federal

Por Henrique Rodrigues

O médico infectologista Marcos Caseiro e o físico e professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto Domingos Alves confirmam o crescimento no número de contaminados nos últimos dias pelo Sar-Cov-2, o coronavírus que provoca a Covid-19, e a informação pode ser o sinal de alerta para uma nova e grave onda de infectados no Brasil, a exemplo do que já vem ocorrendo em outras partes do mundo.

“Isso está acontecendo na Europa, está explodindo lá e eu tenho a impressão que isso vai acontecer isso aqui também. A gente está vendo aumentar muito em pessoas jovens, e é o que está acontecendo na Europa. Pessoas jovens, eventualmente vacinadas, o que pode sim resultar numa menor letalidade ou de casos graves nessa faixa etária, mas o que a gente precisa compreender é o que vai representar isso para as pessoas mais vulneráveis, como idosos, pessoas com comorbidades, enfim”, explicou Caseiro.

Além das estatísticas, o médico conta que esse crescimento é perceptível no cotidiano clínico dos profissionais que lidam com a pandemia e a novidade fica por conta do perfil dos novos infectados.

“Eu acabo de confirmar dois casos, de dois jovens, vacinados, que foram a uma festa agora nesse fim de ano e que testaram positivo. Se esses dois jovens numa festa testaram positivo, todo mundo, ou muita gente que esteve por lá, também está contaminado”, contou o médico.

Caseiro esclarece que a vacinação é importante e que ela garante uma proteção ampla aos imunizados, mas que essas pessoas que se contaminam podem servir de transmissores para alguém que não tenha uma proteção tão abrangente contra a doença.

“O importante entendimento que deve existir é que, o que a vacina promete em parte é não desenvolver casos graves e morte. Você pode até pegar a doença, mas ela não apresentará formas graves, você não vai morrer e não será intubado. De qualquer forma, uma grande contaminação agora pode fazer a coisa ‘pegar’. Com um grau maior ou menor de sintomas, e obviamente quem se contaminar servirá como um transmissor para as pessoas mais vulneráveis”, exemplificou.

O professor Domingos Alves, da Faculdade de Medicina da USP, e que ajudou a criar desde o início da pandemia o portal Covid-19 Brasil, diz que os números sobre o crescimento de infectados é inequívoco, não deixando margem para outra interpretação.

“Há, confirmado, um aumento de casos registrados e internações na Região Metropolitana de São Paulo. Como nós confirmamos esses dados? Pelo portal Covid-19 Brasil no qual nós monitoramos os dados dos municípios, principalmente dos municípios do Estado de São Paulo, e inclusive dados da Secretaria Estadual de Saúde. Esses dados podem ser vistos, dos aumentos de internação, por exemplo, de maneira estática, no próprio site da Secretaria Estadual de Saúde”, falou o físico.

Letalidade é uma incógnita

Marcos Caseiro reiterou que não existem informações confiáveis ou definitivas que mostrem uma menor letalidade por parte da variante Ômicron. Para ele, o índice de pessoas vacinas e de indivíduos que tiveram a doença pode “mascarar” o real potencial de provocar a morte por parte da nova cepa.

“Certamente isso já mostra uma situação mais de reflexo da circulação mais intensa dessa cepa Ômicron, que tem uma transmissibilidade muito grande. Em hipótese alguma há alguma informação que confirme que esta variante tem uma letalidade menor. A única coisa que nós sabemos é que um vírus que se dissemina muito rapidamente. Ela foi identificada em 25 de novembro e já está em todo lado, no mundo inteiro. Ela se espalha muito mais rápido, mas o quanto ela pode ser mortal, definitivamente não temos uma informação sobre isso”, frisou.

Para o infectologista, uma superpropagação do coronavírus poderia causar problemas em segmentos da população que não têm proteção total via imunizantes, causando uma nova onda de mortes que pode ser evitada por meio das medidas que todos já conhecem.

“Deve ficar claro que, nessa explosão de casos recentes na Europa, pela variante Ômicron, a maior parte dos casos é em pessoas não vacinadas e em jovens, mas precisamos saber até que ponto ela vai se expandir para os vacinados mais idosos e para os vacinados que não tiveram uma proteção plena”, concluiu Caseiro.