Confira os pontos de arrecadação na Baixada Santista - Foto: Reprodução

A Secretaria Executiva do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista (FESBS) lançou, esta semana, um manifesto com ações de combate ao avanço do novo coronavírus.

O Fórum ressalta a importância da Economia Solidária, especialmente em um momento de crise como este.

“Ao mesmo tempo em que a Covid-19 promove mudanças no uso de tecnologias, redes de solidariedade locais são criadas, dando luz ao comércio de proximidade, à Economia Solidária (EcoSol) e ao apoio mútuo”, destaca o manifesto.

Ao mesmo tempo, o FESBS desenvolveu uma Campanha de Solidariedade, com o objetivo de arrecadar alimentos não perecíveis, material de higiene pessoal e material de limpeza para pessoas afetadas economicamente pela pandemia.

Veja a íntegra do documento:

Manifesto e ações do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista frente à pandemia do coronavírus

O coronavírus é resultado do sistema econômico capitalista, tendo como causa os desequilíbrios, principalmente ambiental, provocados por práticas que visam sempre ao mercado e não ao bem-viver. O impacto socioeconômico atinge de forma desproporcional as populações mais pobres e vulneráveis, expondo a absurda e desumana desigualdade social, gerando a necessidade de medidas de emergência humanitária a fim de mitigar o inevitável caos social.

O acelerado mundo de vidas e negócios freou abruptamente. Estamos diante de emergências sanitária, ambiental, econômica e social, com impactos no curto, médio e longo prazos, resultado do modelo de economia capitalista explorador e predatório, que se mostra inadequado ao necessário desenvolvimento humano e ambiental.

As sociedades estão arcando com os enormes custos dessa crise do coronavírus e devem aproveitar a oportunidade para promover mudanças e correções no modelo econômico, no modo de produção e consumo e nas relações de produção, com uma retomada regenerativa do planeta: a crise do coronavírus e as emergências ambientais exigem medidas correlatas.

Os avanços tecnológicos, com intensiva utilização de inteligência artificial, que já vinham promovendo profundas transformações no mundo do trabalho, estão sendo velozmente disseminados nessa crise. Mas é preciso que as quebras de paradigmas e disrupções que estão ocorrendo contribuam com a redução das desigualdades e a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Assim, ao mesmo tempo em que a Covid-19 promove mudanças no uso de tecnologias, redes de solidariedade locais são criadas, dando luz ao comércio de proximidade, à Economia Solidária (EcoSol) e ao apoio mútuo.

Historicamente, desde a emergência da Cooperativa dos Pioneiros de Rochdale, em 1844, que inaugurou o cooperativismo considerado moderno, as experiências de EcoSol crescem em épocas de crise, visto que a reciprocidade tende a substituir o toma lá dá cá de dinheiro por produtos e serviços.

Cria-se, portanto, uma alternativa para os trabalhadores, que é construir empreendimentos econômicos solidários, que podem ser cooperativas de consumo, de produção e de prestação de serviços, bancos populares, associações, fundos rotativos e grupos informais com atuação permanente. Fábricas inviabilizadas economicamente também podem ser assumidas e administradas pelos trabalhadores.

Na EcoSol, a solidariedade entre os membros de um grupo e destes com fornecedores, consumidores e poder público não se fundamenta na caridade. A solidariedade deve estar vinculada à reciprocidade, o que a torna um dos pilares para que os seres humanos alcancem a emancipação.

Na Baixada Santista também se observam esses fenômenos acontecerem, como as redes solidárias de Peruíbe, Mongaguá, Itanhaém e Bertioga, que reúnem produtores, prestadores de serviços e consumidores; o aumento do número de famílias do grupo de consumidores conscientes do Livres, em Santos; o envolvimento de grupos voluntários e de EcoSol na produção de máscaras; a emergência de trocas entre as pessoas e, obviamente, as doações.

Essas experiências também têm relação com as atividades de formação promovidas pelos integrantes do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista (FESBS), ao longo dos últimos dez anos, e da militância que exercem no cotidiano.

Vários empreendimentos integrantes das redes solidárias da Baixada Santista são de gestão familiar e iniciam um processo de adoção de práticas coletivas, o que caracteriza este movimento como uma transição solidária.

Conclui-se que é de grande importância o conceito de “transição solidária” na EcoSol, pois a sua prática requer formação em um ambiente dominado pela propaganda de que as pessoas devem competir para vencer e não cooperar para todos viverem melhor.

A transição pode ser entendida como um processo de mudança, com a adoção de práticas que contribuem para a organização da economia com fundamentação na reciprocidade. Trata-se, portanto, de migrar de um comportamento vinculado à lógica das empresas capitalistas, ou seja, ao princípio da maximização do lucro, da competição, para outro com fundamentação na cooperação.

A transição solidária se refere ainda ao movimento em que produtores ou prestadores de serviços individuais se organizam para praticar finanças solidárias, comercializar, comprar insumos em grupo e compartilhar conhecimentos.

A mudança é contínua, pois quanto mais houver engajamento dos integrantes em eventos de formação e na militância no FESBS, mais sólida será a participação na construção de empreendimentos econômicos solidários. Portanto, as redes territoriais de EcoSol podem emergir da formação e do comércio de proximidade, promovendo a mudança da realidade local.

A EcoSol é uma alternativa ao atual modelo econômico por promover equidade, promoção da dignidade do trabalho, justiça social, respeito à natureza, diversidade cultural, política, racial e religiosa, valorização dos recursos e conhecimentos locais, enfim, emancipação do ser humano. No entanto, na atual conjuntura, os empreendimentos econômicos solidários enfrentam grandes dificuldades por integrarem o processo de construção de uma outra economia no seio do atual sistema. 

Dessa forma, o FESBS se posiciona politicamente frente ao momento pelo qual passamos, de forma coerente com sua trajetória para o fortalecimento das redes de economia solidária e aldeias indígenas.

Assim, atua para operacionalizar ações de apoio concreto àqueles que enfrentam maiores dificuldades, mas também propõe que as ações de solidariedade deverão ser acompanhadas de convites para que as pessoas compreendam a conjuntura atual e conheçam melhor os princípios e valores da EcoSol. Os eventos com esses objetivos poderão ser organizados online ou de forma presencial, quando for possível.

Ações desenvolvidas pelo Fórum de Economia Solidária

– Apoio e divulgação das redes solidárias locais para o fortalecimento da economia de proximidade, ou seja, do modo de organização da economia, baseada na relação direta entre produtores e prestadores de serviços de gestão familiar e de empreendimentos econômicos solidários com consumidores, assim como entre órgãos públicos que integram a sua dinâmica.

– Definição de dez pontos de coleta de doações de alimentos e materiais de limpeza, compreendendo todos os municípios da Baixada Santista, em parceria com empreendimentos econômicos solidários e poder público.

– Arrecadação de contribuições por meio de depósitos em conta corrente.

– Aplicação de questionário junto às comunidades indígenas e empreendimentos econômicos solidários para obter informações, principalmente quanto às necessidades existentes.

– Distribuição dos recursos arrecadados, com apoio de entidades e órgãos públicos parceiros, de acordo com as necessidades apresentadas.

– Encaminhamento de ofícios à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e Fundação Nacional do Índio (Funai) para que apoiem os indígenas, principalmente para a cessão de alimentos e materiais de higiene e limpeza e apoio na distribuição segura das doações.

– Parceria com as secretarias de assistência social de alguns municípios para apoiar a distribuição de alimentos e materiais de higiene e limpeza.

Secretaria Executiva do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista.