O álcool gel 70 é recomendado para evitar a contaminação pelo novo coronavírus - Divulgação

A Universidade Federal do Paraná (UFPR) faz um alerta: cerca de 75% das amostras de álcool em gel analisadas pelo Departamento de Química da instituição apresentaram teores de álcool etílico inferior a 68%, que é o mínimo recomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Isso significa que muitos sanitizantes são ineficientes em eliminar o coronavírus”, disse à Folha Santista Andersson Barison, professor do Departamento de Química da UFPR. “As pessoas acham que estão sendo protegidas usando álcool em gel, quando na verdade pode ser justamente ao contrário”, alertou.  

Por meio do Laboratório de Ressonância Magnética Nuclear (LabRMN), do Departamento de Química, a UFPR passou a analisar, desde junho do ano passado, amostras de álcool em gel enviadas pela população. O serviço, gratuito, tem o intuito de verificar se elas estavam dentro do especificado pela Anvisa.

Para eliminar o novo coronavírus, o álcool antisséptico precisa ter de 68% a 72% de álcool etílico na fórmula, em geral combinada com água.  Menos do que isso, o álcool não é ativo; mais do que isso, o álcool evapora antes de esterilizar as superfícies.

Até o momento, segundo Barison, foram analisadas 152 amostras. “É pouco, considerando a quantidade de amostras que não atendem a legislação”, afirmou.

Mas por que estariam ocorrendo tantas adulterações? O professor diz acreditar que as marcas que que enfrentam mais problemas em garantir a qualidade do álcool 70 são as de fabricantes de ocasião, que decidiram atender à demanda pelo produto no início da pandemia no Brasil, em março. Para ele, tem ocorrido erro na fabricação. “Falta de pessoal qualificado para fazer o álcool em gel, pois não é só misturar álcool etílico é água. As marcas picaretas, aquelas que colocam só um pouco para dar cheiro de álcool são poucas”. Segundo ele, fabricantes têm procurado a testagem gratuita da UFPR.

Análise caseira não dá certo

A Folha Santista questionou se o consumidor não consegue ao menos “desconfiar”, por alguma característica, que o produto não esteja dentro do especificado. Por exemplo, pelo cheiro. “Infelizmente, não”, respondeu ele. Segundo o docente, mesmo com um teor muito baixo de álcool etílico, por exemplo de 30%, o produto continua apresentado o mesmo aspecto físico e também o odor característico de álcool.

Ele conta que o pessoal do laboratório fez um teste. “Demos duas amostras para as pessoas sentirem o odor, uma continha 30% e a outra 70% de álcool etílico. Para a nossa surpresa a maioria das pessoas sentiu um odor de álcool mais forte na amostra que continha apenas 30%”, afirmou.

Como enviar amostras

Por esse motivo, Barison fez um apelo para que a população envie amostras para que eles analisem. O trabalho continua, afirmou, e eles não têm a intenção de parar tão cedo. “É uma forma de devolver à sociedade todo o investimento que ela faz na universidade pública e que financia os projetos de pesquisa”, afirmou.

“Sabemos que o uso de um sanitizantes eficiente contribui significativamente para reduzir o espelhamento do coronavírus e com isso diminuir o número de pessoas infectadas. Em outras palavras, salvar vidas”, disse. 

Para solicitar a análise, basta entregar entrar em contato pelo e-mail [email protected] e levar uma amostra do produto à guarita do Centro Politécnico da UFPR (Av. Cel. Francisco H. dos Santos, 100, Jardim das Américas), em Curitiba.

Mas quem não mora em Curitiba também pode ter amostras avaliadas. Elas podem ser enviadas pelo Correio para o endereço acima, colocando no envelope: Laboratório de Ressonância Magnética Nuclear do Departamento de Química da UFPR.

Segundo Barison, uma colher de chá do produto é suficiente.

A pessoa deve informar seus dados pessoais e de contato. O resultado é encaminhado por e-mail a quem solicitou a amostra.