Foto: Marcela Mattos

No dia 8 de março, a partir das 16h20, a Articulação Nacional de Marchas da Maconha vai apresentar o Encontro de Mulheres Antiproibicionistas, um ato virtual em celebração ao Dia Internacional da Mulher. A proposta é promover um debate em torno dos eixos Liberdade, Saúde e Resistência.

“O feminismo e o antiproibicionismo caminham juntos, principalmente em relação à questão do direito ao corpo, pois o proibicionismo afeta a vida da mulher de diversas formas. Uma delas é o aborto, por exemplo, que ainda é proibido. Para nós, a pauta da maconha e do aborto é bastante interligada, porque representa o Estado intervindo no direito individual ao nosso corpo”, explica Marcela Mattos, integrante da Marcha da Maconha Baixada Santista, um dos coletivos que organizam o ato da Articulação Nacional.

Ela conta que o Brasil tem a terceira população carcerária do mundo e uma grande porcentagem dessas prisões está relacionada à chamada guerra às drogas.

“Na verdade, essa guerra às drogas nada mais é do que o genocídio da população preta, pobre e periférica. Nesse cenário, 63% das mulheres presas no Brasil são negras, 50% por tráfico, sendo que nos últimos 20 anos o aumento da população carcerária feminina foi de mais de 600%. Então, existe uma política do Estado, que promove um encarceramento em massa desse recorte da população”, destaca Marcela.

Em sua avaliação, não há como dissociar a luta feminista, pela liberdade da mulher, com a luta contra o proibicionismo. “Os inimigos vêm do mesmo lugar: bancada religiosa, bancada da bala, agronegócio, indústria farmacêutica, todos juntos ditando as normas que afetam, principalmente, a mulher preta, pobre, periférica”.

Para Marcela, um grande problema que impede a aceitação maior da maconha na sociedade brasileira é o preconceito.

“É uma hipocrisia. O álcool está aí, legalizado, incentivado, jogador de futebol fazendo campanha na TV e é a droga que mais mata, mais afeta a família, mais causa acidentes de trânsito. Na pandemia aumentou assustadoramente o consumo de soníferos, remédios de tarja preta, antidepressivos, e isso não é falado”, avalia.

Esse fato, prossegue ela, só prova que a regulação das substâncias não é feita de acordo com a preocupação em relação à saúde das pessoas, mas, sim, por interesses.

O tema desperta a cada dia mais atenção. Marcela cita o curso de cannabis medicinal desenvolvido na Unifesp, que está na quinta edição. “Hoje, tem 14 mil inscritos e há médicos, cientistas, psicólogos, advogados reunidos, escancarando que a maconha não só podia ajudar muito em várias questões da saúde, como também a economia do país, com a recolhimento de impostos”, ressalta.

“O Brasil é gigante, com milhões de possibilidades de cultivo, que poderiam trazer autonomia econômica para o país. No atual cenário, está servindo apenas aos interesses de poucos, os verdadeiros traficantes, que usam terno e gravata e comandam tudo. Esses estão lucrando com a maconha, enquanto o comerciante da quebrada está sendo morto pela polícia”, analisa Marcela.

Articulação

A Articulação Nacional de Marchas da Maconha é um coletivo formado há cerca de um ano e que realiza reuniões periódicas virtuais, no contexto da pandemia, para discutir pautas diversas do movimento antiproibicionista, que está ligado à Marcha da Maconha.

Para o 8 de março, as mulheres da Articulação se organizaram em conjunto com as Marchas e movimentos antiproibicionistas para construir a atividade, além de apoiar, junto a outras 90 organizações feministas de todo o país, o Ato Nacional Unificado, que será transmitido nas redes no dia 7 de março.

Foto: Reprodução

Programação do Dia 8

16h20 – Abertura e Apresentação – Salve das manas Daiane Ros e Ericka Rej (Marcha da Maconha Maceió).

17h – Bloco I: Liberdade e vida da mulher.

Mediação: Zazá Lula (Articulação Nacional de Marchas da Maconha, Movimento Antiproibicionista e RENFA) e Maria Daniela (RENFA e AMOTRANS).

Pautas: Encarceramento feminino, anti-proibicionismo – legalização das drogas e aborto, feminicídio, lei de alienação parental.

Convidadas: Ju Trevas(Liberta Elas/PE), Fran Silva (RENFA), Márcia Balades (Liga Brasileira de Lésbicas e Marcha da Maconha Santos/SP), Fernanda Falcão (Rede Nacional de Travestis e Transsexuais convivendo com HIV – GTP+), Amanda Cunha (Marcha Mundial de Mulheres RENFA) e integrante (nome a confirmar) da Bloca Feminista da Marcha da Maconha SP.

18h30 – Bloco II: Maconha, mulher e saúde.

Mediação: Réa Sílvia (Terapeutas Cannábicos).

Pautas: Maconha e fitoterapia na saúde da mulher, da concepção ao puerpério (maconha como portal de conexão entre mãe e filho), redução de danos e soberania alimentar.

Convidadas: Amanda Menconi (Resistência Feminista), Pri Gadelha (Escola Livre de RD), Natália (Fankukies-SP), Karin (Mama Flor – Ação Terapêutica), Mirelle (Associação Flor da Vida), Pâmela de Oliveira (Instituto Práxis).

20h Live da Sbec: Mães Jardineiras.

21h30 Bloco III: Mulheres e resistência.

Mediação: Ingryd Rodrigues (Flor da Vida/Comunicannábicos/Marcha da Maconha BH) e Marcela Mattos (Marcha da Maconha Santos/SP).

Pautas: Organização feminista e combate ao machismo, racismo e LGBTQIfobia no movimento antiproibicionista.

Convidadas: Ana Fonseca (MãesConha), Margarete Brito (APEPI), Angela Aboin (Mãesconha), Ingrid Farias (RENFA e Marcha da Maconha Recife), Maria Daniela (RENFA e AMOTRANS), Natália Mesquita (Marcha da Maconha Olinda/PE) e Isadora Jucene (Cannape).

22h30 – Encaminhamentos.

23h – Despedidas & encerramento

23h30 – Cultural até 00h20.

Poesia – Ingryd Rodrigues e Dj Aline Leão.

Transmissão

A atividade do dia 8 será transmitida ao vivo nas redes sociais, por diversas páginas de coletivos da Marcha da Maconha pelo Brasil e outros movimentos antiproibicionistas.

Entre as transmissões, que acontecerão pelo Facebook, estão as páginas das Marchas de Florianópolis, Santos, Campinas, Maceió, Belo Horizonte, Niterói, Uberlândia, Natal, Recife, Rio de Janeiro, Cannabis Monitor Brasil, Terapeutas Cannabicos, Instituto da Cannabis, Comunicannábicos, Movimento pela Legalização da Maconha, entre outras.