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Numa busca rápida no Google, colocando “cuidado paliativo” como palavra-chave, depois das propagandas, aparece um site que presta um ótimo serviço desconstruindo o conceito de cuidado paliativo e óbito. Mas a palavra “morte” está no título do conteúdo e parece ser inevitável que ela venha à cabeça. Quando não é morte, pensa-se em improviso ou em abandono terapêutico.

Entretanto, você sabe de onde vem a palavra “paliativo”? Pallium vem do latim e quer dizer manto, cobertor. É uma referência às capas usadas pelos peregrinos em suas viagens aos santuários para a proteção contra as intempéries da viagem. Portanto, “cuidado paliativo” é aquele que oferece proteção contra o sofrimento que a natureza de uma doença pode gerar. Diante de situações graves, independentemente de cura, há um cuidado a ser oferecido.

A doença é uma abstração da realidade e está relatada em detalhes nos livros que descrevem sintomas, exames e tratamentos. Mas, no ser humano o que a doença gera é sofrimento. Duas pessoas podem ter a mesma enfermidade, mas a experiência que elas terão serão particulares, porque o sofrimento não se repete, ele é único. Paliar é acolher a angústia física, controlando sintomas desagradáveis, nunca se esquecendo das demandas emocional, social e espiritual.

Vivemos hoje, devido ao Covid-19, uma crise humanitária que já está gerando sofrimentos e inseguranças. Uma situação sem precedentes com diversos braços a serem analisados: todos terão acesso à saúde? Haverá respirador para todos? Como lidar com o isolamento mantendo equilíbrio mental? Como oportunizar segurança e isolamento para pessoas vulneráveis que não têm acesso à agua corrente? Como lidar com a pandemia no país com uma das maiores populações carcerárias do mundo? Como proteger e não abandonar nossos idosos? Como lidar com as dificuldades econômicas de uma crise que esbarra também na nossa forma de viver, baseada em produção e bens de consumo? O duro é que não há respostas concretas para nenhuma dessas perguntas.

Esta semana a Academia Nacional de Cuidados Paliativos se posicionou dizendo: “Cuidado Paliativo é uma abordagem voltada para o controle de sintomas, conforto e qualidade de vida. Deve ser oferecido em conjunto com o tratamento padrão de qualquer doença que ameace a continuidade da vida, não devendo jamais ser associado com a omissão ou exclusão, mesmo durante uma pandemia”.

O quadro atual exige equilíbrio emocional entre profissionais e pessoas com as enfermidades. E exige também muitas tomadas de decisão difíceis em saúde, que devem ser deliberadas entre familiares, doentes e assistentes de saúde. Max Watson, diretor do Hospices, no Reino Unido, afirmou compromissos do cuidado paliativo na pandemia:

1-Capacitar outros profissionais de saúde para técnicas de comunicação;

2-Manejo de sintomas, em especial da falta de ar;

3-Oportunidade de demonstrar os princípios humanitários que guiam o cuidado paliativo em um mundo que trata as pessoas como números. E que, sim, as pessoas importam, estejam elas nas prisões, com condições de saúde limitante ou em instituições de longa permanência.

Portanto, podemos contar muito com a colaboração do cuidado paliativo durante essa crise, em que diversas pessoas irão, subitamente, adoecer e necessitar de cuidados ao seu sofrimento, tanto quanto de um aparelho artificial para respirar.

Além disso, a disseminação do vírus está causando um sentimento de medo, pânico e levando nossas emoções a extremos. Isso também deve ser cuidado pelos profissionais e agentes políticos.

As pessoas idosas, frágeis ou imunodeprimidas com doenças crônicas correm maior risco com o novo coronavírus. Essas são as populações prioritárias que se enquadram nos cuidados paliativos. Nesse contexto, os principais objetivos – qualidade de vida, controle impecável de sintomas, planejamento avançado dos cuidados e apoio aos entes queridos das pessoas acometidas por doenças que ameacem suas vidas – nunca foram tão importantes.

Todos devemos agir com empatia diante do que as pessoas estão sentindo, seja apoiando ou demonstrando respeito e tranquilidade. Isso é uma lição de vida que devemos levar conosco. Isso é cuidado paliativo.