Foto: Kamila Drieli

A matéria e a energia surgiram há 13,5 bilhões de anos.

Há 200 mil anos surgiu o Homo sapiens na África Oriental e há 70 mil anos os sapiens se espalharam a partir daí. Desde então, a cada novo lugar povoado, espécies são extintas. Começamos por extinguir as megafaunas – da australiana a americana – e há 13 mil anos somos a única espécie humana sobrevivente.

Sistemas de escrita, dinheiro e religiões politeístas surgiram há 5 mil anos. O cristianismo, há 2 mil anos, a revolução industrial há apenas 200.

O sufrágio feminino foi garantido pelo primeiro código eleitoral brasileiro em 1932.

Eu nasci em 1989.

Meu filho, em 2018.

Gosto de pensar no tempo, de desenhar uma linha imaginária na minha cabeça e refletir sobre todas as mudanças que sofremos enquanto espécie, no quanto nos diferenciamos dos outros animais, e o quanto isso não me agrada de forma coletiva.

Evoluímos, e num dado momento tomamos consciência de tudo que havia ao nosso redor.

– Uau, animais. Uau, plantas e frutas. Uau, rios e mares. – Exclamávamos excitados.

Pudemos sentir, formular hipóteses, criar explicações para o que fugia do nosso entendimento limitado. Nos colocamos como superiores às outras formas de vida e inventamos histórias para respaldar nossa ideia de que os outros seres estão aqui para nos servir, até mesmo exemplares de nossa própria espécie, seja por possuir um órgão genital diferente, ou até mesmo outra coloração de pele.

E aqui estamos nós, num grão de poeira vagando no infinito, no meio de um caos mundial gritando a plenos pulmões que estamos fazendo algo errado. Pior, que estamos fazendo algo errado sem um fim ou propósito justo, sequer digno, nem ao menos real.

E precisam gritar em nome de alguém – de Deus, da família, da congregação, do povo – porque não são capazes de gritar em nome próprio, de dizerem em próprio interesse, porque seus desejos os envergonham, porque seus objetivos, de fato, são exclusivos, o que estes almejam não é para todos. E assim enriquecem os homens brancos héteros populistas conservadores incapazes de formular frases coerentes ou pensar de forma humanitária.

E tornam-se presidentes garotos mimados, simplistas, recalcados, ávidos por poder. E à medida que percebemos isso, que nos damos conta que, se o poder está em determinadas mãos e tudo que vem sendo feito ao longo da história resulta em maldade, subjuga um grupo, odeia um outro, cerceia direitos, limita espaços, precisamos fazer com que ele mude de mãos.

Temo só de pensar como se muda uma ideia semeada de forma tão homeopática ao longo do tempo? Como se desfazer de leis incutidas em nós como microchips invisíveis tão fundo, mas tão fundo, que mesmo sabendo que não existem de fato, que não exercem função além de nos limitar, trememos diante da possibilidade de viver com o vazio que ele deixará se o tirarmos. O vazio que precisamos encarar, por pelo menos um segundo, para percebermos que existem outras réguas além da nossa.

Olho pro meu filho e vejo um futuro mais bonito.

Talvez a resposta seja essa, os olhos dos nossos filhos, dos filhos de nossos amigos, filhos dos nossos irmãos, filhos de pessoas desconhecidas que nos atravessam nas ruas com seus carrinhos de bebês modernos. Talvez esse olhar que nos muda tanto, que nos toca para além de uma retina de cores variáveis, seja a resposta que precisamos, a trombeta de prata soando, a luz que diz “A mudança começa em você”.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do Folha Santista

Escritora, mãe, mulher e formada em Biologia Marinha. Na infância, lia livros de fantasia. Com o passar do tempo, a escrita se tornou essencial. Seu primeiro livro – “A Portadora da Luz” – está disponível na Amazon. Hoje, ela usa diferentes meios para se expressar: música, desenho, poesia e fotografia.