Celio Nori, Uriel e Sérgio Sérvulo foram coordenadores do Fórum da Cidadania de Santos - Foto: Francisco Arrais /PMS/ Arquivo

Por Cidinha Santos*

Durante o 6º Encontro Nacional dos Trabalhadores Liberais e Universitários (CNTU), realizado na quarta-feira 15), com o título “2022: O ano em que o Brasil vai mudar de pele”, em comemoração aos 15 anos da entidade, foram homenageados os conselheiros que nos deixaram no ano de 2021.

A convite de um dos conselheiros da CNTU, Allen Habert, fui incumbida de falar sobre as perdas de três companheiros valorosos neste ano: Celio Nori, Uriel Villas Boas e Sérgio Sérvulo da Cunha.

O sociólogo Celio Nori foi o idealizador e criador do Fórum da Cidadania de Santos, uma entidade que completará 20 anos em 2022, ano de muitas comemorações, como o bicentenário da Independência e o centenário da Semana de Arte Moderna.

Celio tinha muitas ideias e milhares de projetos impossíveis de realizar numa vida apenas, como brincávamos. Mesmo assim, ele conseguiu concretizar muitos deles, envolvendo movimentos sociais, sindicatos, universidades e entidades da sociedade civil. Não há ação participativa na cidade de Santos que não tenha a marca do Fórum da Cidadania, na figura de Celio Nori.

Dentre as diversas realizações, destaco a conquista do espaço da Estação da Cidadania, atual sede do Fórum, imóvel tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural (Condepasa), além da realização de duas edições do Fórum Social da Baixada Santista, inspirado no Fórum Social Mundial.

Infelizmente o perdemos para a Covid-19, em maio deste ano – mais uma morte entre centenas de milhares, todas vítimas da atual política negacionista do governo brasileiro. Ele nos deixou no dia 17 de maio.

Celio Nori – Foto: Divulgação

Guerreiro das lutas sindical, o advogado e jornalista Uriel Villas Boas era movido pela defesa intransigente dos trabalhadores brasileiros, com quem lutou desde que iniciou seu trabalho na Cosipa, em Cubatão, em 1961.

Enfrentou o golpe empresarial-militar e participou das grandes greves da categoria. Tornou-se um dirigente sindical respeitado, sempre participando das lutas de outras categorias e da sociedade, que iam além dos aumentos salariais.

Foi assim em 2001, quando o Sindicato dos Metalúrgicos se uniu aos Bancários e Petroleiros para organizar o plebiscito sobre a Área de Livre Comércio das Américas, a Alca, que ouviu mais de 10 mil pessoas na Baixada Santista.

Não parou nem quando se aposentou. Criou a Associação de Aposentados, a ASIMETAL, e dias antes de morrer participou de uma manifestação no sindicato e de uma reunião de organização do ato “Fora Bolsonaro”, em outubro. Ou melhor, um dia antes de sua morte, em 16 de outubro, participou à noite de reunião preparatória para outros atos “Fora Bolsonaro”.

Uriel Villas Boas – Foto: Reprodução/Facebook

Não tenho a pretensão nem seria capaz de falar do doutor Sérgio Sérvulo da Cunha e lembrar de toda a contribuição que prestou à cidade de Santos e ao país.

Advogado e jurista, Sérvulo foi exemplo no apoio àqueles e àquelas que resistiam e combatiam o golpe empresarial-militar de 1964. No final da década de 1970 e início da de 1980, Sérgio Sérvulo foi um dos três advogados de Santos que se colocavam a serviço da defesa das companheiras e companheiros que lutavam contra o golpe.  Essas pessoas levavam consigo o número do telefone do Sérgio Sérvulo escondido nas bainhas das roupas, caso fossem presas.

A presença dessa pessoa tão respeitada, e tão doce nas relações com as pessoas, juntamente com outros companheiros, garantiu a governabilidade do primeiro governo democrático-popular de Santos, como vice-prefeito e secretário de assuntos jurídicos, em 1989.

Sérgio e Célio idealizaram as comemorações do centenário da Semana de Arte Moderna e sua ressignificação, com a Semana de Arte Transmoderna de 22, a SAT22, na Baixada Santista.

Sérgio era poeta e filósofo e autor de diversos livros – foi o modo de compartilhar sua experiência de vida.

Publicou muitas obras sobre Direito, Política e eleições, Religião, Filosofia e poesia. Um dos que mais me marcaram foi “Diplomacia do Corpo”, que, relendo após sua morte, tenho a nítida sensação de que ele se despedia do corpo que abrigou sua alma nobre durante 86 anos, entendendo as limitações, se preparando e nos preparando para a morte.

Ele nos ensinou a viver e a morrer. Nos deixou no dia 11 de dezembro. 

Sérgio Sérvulo da Cunha – Foto: Arquivo pessoal

CELIO NORI, URIEL VILLAS BOAS E SÉRGIO SÉRVULO DA CUNHA serão sempre lembrados pelo exemplo de vida e compromisso com as lutas coletivas. Deixam uma responsabilidade enorme para quem conviveu e aprendeu com eles, na condução do Fórum da Cidadania de Santos onde os três foram coordenadores.

Foram companheiros de vida e de luta!

*Cidinha Santos é jornalista e participa da coordenação de comunicação do Fórum da Cidadania de Santos.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do Folha Santista.