Foto: Mariana Dias

A professora e publicitária Mariana Dias, negra, de 35 anos, procurou o Folha Santista para denunciar que foi alvo de racismo por parte da loja iPlace, que comercializa celulares e acessórios, localizada no Praiamar Shopping, em Santos. Ela conta que não foi atendida sob uma justificativa, no mínimo, estranha.

“Nesta terça-feira (5), entrei na loja. Havia seis funcionários e nenhum cliente. Fiquei alguns minutos, olhei modelos de celulares e ninguém me atendeu. Aguardei a chegada de mais clientes para ver o que aconteceria”, conta Mariana.

“Em seguida, um casal branco ingressou na loja e, para minha surpresa, foi atendido logo na entrada por um dos funcionários. Resolvi sair da loja, esperei cerca de cinco minutos e entrei novamente para ver se, enfim, seria atendida. A situação se repetiu e fui ignorada”, relata.

Ela conta que se dirigiu até o caixa e perguntou ao funcionário se o gerente estava no local. “Ele respondeu: ‘em que posso ajudar?’. Eu questionei qual o critério da loja em relação ao atendimento aos clientes. Vocês escolhem quem vão atender?”, indagou a professora.

Segundo Mariana, o funcionário, visivelmente constrangido, respondeu que o protocolo da loja é não atender quem está usando fone de ouvido.

“Eu respondi que havia entrado duas vezes na loja e o fone estava colocado apenas em um ouvido. E mais: se eu entrei na loja é porque eu gostaria de ser atendida”, acrescenta.

Mariana diz que ainda não decidiu se tomará alguma medida judicial contra o estabelecimento.

Posicionamento

O Folha Santista tentou contato com a loja de diferentes maneiras para obter um posicionamento sobre a denúncia. Na unidade onde ocorreu o caso, ninguém atendeu às várias ligações feitas para o telefone fixo.

Foram encaminhados, também, e-mail e mensagem via WhatsApp, porém, sem resposta. Somente no dia 8 de janeiro, houve retorno, via e-mail. Segue a nota:

Diante do ocorrido na loja iPlace, no Praiamar Shopping, em Santos, viemos por meio desta nota manifestar nosso repúdio e reafirmar o compromisso no combate ao racismo e a todas as formas de discriminação. Nossa história se constrói no respeito às diferenças e não apoiamos a exposição de qualquer pessoa a constrangimentos. Temos como compromisso, em todas as nossas unidades, prestar o melhor atendimento possível a todos os clientes, tendo como valor o respeito à diversidade. Não só repudiamos como trabalhamos constantemente para que todos sejam sempre bem acolhidos em nossas lojas. 

Lamentamos o ocorrido e vamos investigar o caso de forma séria. Já entramos em contato com a cliente para entender o caso, além de nos colocar à disposição para qualquer esclarecimento. 

Combater todos os tipos de preconceitos é uma tarefa contínua. Vale frisar que a iPlace atua ativamente na construção de uma sociedade que respeita o próximo, seja cliente, funcionário ou prestador de serviço.

Sabendo do tamanho do desafio que é combater o preconceito racial no Brasil, estamos comprometidos em 2021 a atuar ainda mais no tema, reforçando e ampliando o conhecimento dos temas ligados à diversidade junto a todos os nossos colaboradores. Todo e qualquer relato será não só aceito como apurado. É trabalhando juntos que vamos ser mais efetivos. 

Nos colocamos à disposição para quaisquer esclarecimentos. 

Atenciosamente, iPlace.

Questionamento 

A própria Mariana questionou o estabelecimento pelo Instagram, na terça, e obteve a seguinte resposta:

“Compreendemos e sentimos muito por ter tido esta experiência, Mari. Estamos trabalhando desde já para que casos assim não ocorram mais.

Lamentamos pelo ocorrido, Mari. Nós estamos sempre buscando melhorias em nossos atendimentos, a fim de proporcionar sempre uma boa experiência de compra aos clientes. Estarei repassando sua reclamação para que a Gestão tome as medidas cabíveis quanto a isso.

Nós, da iPlace, temos diversidade e respeito como valores inegociáveis e encaramos o combate ao preconceito como algo a ser realizado e forma constante”.