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Santos é famosa por suas praias e pela orla repleta de edifícios. Contudo, ao longo das últimas décadas, essas construções se tornaram uma atração ainda mais peculiar: muitas delas estão inclinadas. Um levantamento recente da prefeitura revelou que essa inclinação não se limita aos prédios à beira-mar, afetando um total de 319 edifícios em várias partes da cidade, sendo 65 deles localizados na orla, com inclinações mais acentuadas.

O estudo foi realizado pela Secretaria Municipal de Infraestrutura e Edificações (Siedi) em resposta a um pedido do vereador José Teixeira Filho, conhecido como Zequinha Teixeira (PP), que atendeu aos receios dos moradores locais. A principal preopcupação era determinar se essas inclinações representavam riscos para os ocupantes dessas construções.

Um histórico de crescimento e urbanização rápida

A história de Santos está intrinsecamente ligada à sua evolução como uma cidade portuária essencial para a economia do Brasil. No entanto, seu crescimento não foi isento de desafios.

Durante o século XIX, com o auge da economia cafeeira, a cidade experimentou um rápido crescimento populacional e urbano. O aumento constante da população e a falta de planejamento resultaram em condições sanitárias precárias, propiciando o aparecimento de doenças epidêmicas. A cidade cresceu sem controle e sem medidas urbanísticas eficazes.

Intervenções e transformação da orla

Porém, importantes intervenções no século XX marcaram uma virada na história urbana de Santos. A construção da Via Anchieta e o Plano Regulador da Cidade, orientado por Prestes Maia (engenheiro, arquiteto e político brasileiro), em 1951, foram marcos fundamentais na história da cidade.

Essas obras não apenas conectaram Santos a São Paulo, mas também estabeleceram as condições necessárias para a expansão urbana da cidade. Foi apenas nesse momento, por volta da década de 1940, que os habitantes começaram a ocupar a orla das praias com palacetes usados pela elite como casas de veraneio, que logo seriam substituídos por edifícios altos com vista para o mar.

As fundações e o “entortamento” dos prédios

O fenômeno dos “prédios tortos de Santos”, que ganhou notoriedade durante a década de 1970, tem uma explicação técnica complexa. Ele está relacionado às fundações dessas construções, que foram projetadas em uma época em que o conhecimento técnico de edifícios altos ainda estava em desenvolvimento.

Na ocasião, havia um grande interesse econômico em construir rapidamente, resultando em fundações rasas, com apenas 3 ou 4 metros de profundidade, que tocavam somente a primeira camada de solo, composta por areia fina e argilosa relativamente firme.

Entretanto, abaixo dessa camada, havia uma outra de areia fina siltosa, mais móvel, que, ao ser exposta a estresses causados pelo volume de construções, começou a se mover, ocasionando o recalque das fundações rasas dos edifícios.

Medidas e fiscalização contínua

O problema, portanto, foi identificado há décadas e Santos tem implementado medidas para garantir a segurança dos habitantes desses edifícios. A cada dois anos, a prefeitura exige que os edifícios apresentem laudos sobre a inclinação, conforme estipulado pela Lei Complementar 441 de 2001.

O Programa dos Prédios Inclinados de Santos acompanha essas medições e avalia se intervenções de reparos ou manutenção são necessárias. É importante destacar que, de acordo com especialistas, nenhum prédio inclinado na cidade apresenta risco iminente de colapso.

Um desafio complexo para a engenharia e a gestão urbana

O caso dos prédios inclinados de Santos destaca a complexidade da gestão urbana em cidades que crescem rapidamente, muitas vezes em desacordo com as regulamentações e padrões de construção adequados. Também ressalta a importância de avaliações geotécnicas rigorosas e regulamentações estritas para garantir que a segurança dos habitantes seja mantida.

Enquanto Santos continua a prosperar como um destino turístico popular, o desafio dos prédios inclinados permanece como um lembrete das consequências de um crescimento urbano desregulado e rápido.