O governador Tarcísio de Freitas e o secretário de Segurança Guilherme Derrite - Foto: Reprodução/Facebook

O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (PL-SP), é um oficial da Polícia Militar (PM) que serviu por muito tempo na Rota, a unidade de elite da corporação, e com um discurso extremista de combate à criminalidade, que naturalmente envolve a “eliminação do inimigo”, se escalou na política e chegou ao mandato de deputado federal nas franjas do bolsonarismo bufo. Com a vitória nas urnas de Tarcísio de Freitas (Republicanos) para ocupar o governo do estado mais rico e populoso do país, ninguém cairia melhor para a função de chefe da SSP do que o policial “linha dura”.

Emulando em São Paulo o que Jair Bolsonaro (PL) fez no Palácio do Planalto, Tarcísio entupiu suas secretarias com militares. No entanto, foi Derrite quem conseguiu uma verdadeira proeza: ele tem ao seu dispor 241 assessores PMs na SSP. Sim, você não leu errado. São 241 homens e mulheres servidores da Polícia Militar lotados em sua pasta para “assessorá-lo”.

Não é possível afirmar categoricamente, mas tal “assessoria” pode ter chegado a “resultados práticos”. Num período de menos de dois meses, da primeira semana de fevereiro até ontem, 1° de abril, a PM paulista matou 56 pessoas na Baixada Santista, região litorânea do estado onde estão muitas das lideranças do crime organizado, e tudo começou após dois policiais terem sido mortos em operações às vésperas do Carnaval.

Para se ter uma noção do tamanho do absurdo, um levantamento realizado pelo jornal Folha de S.Paulo mostrou que o contingente à disposição de Derrite em seu gabinete é maior que o efetivo da Polícia Militar de 588 cidades paulistas, ou seja, 91,2% dos 645 municípios do estado. Em todo o território paulista, só 57 cidades podem contar com mais PMs do que a “tropa” do secretário-deputado-PM-da-Rota.

Transformação

No final do governo de Rodrigo Garcia (PSDB), vice de João Doria (PSDB), que assumiu a fase final de seu mandato após a renúncia do empresário para tentar lançar candidatura à presidência da República, esses assessores eram 183, que se dividiam entre a segurança pessoal do secretário de Segurança Pública, setores estratégicos da pasta, proteção pessoal a autoridades, como desembargadores e procuradores, e o resguardo de edifícios públicos do setor. Agora, com Derrite, eles estão espalhados por várias funções, até mesmo na área que postagens de vídeos e fotos nas redes sociais.

A Folha informa que, no caso dos oficiais que vão para a “assessoria” de Derrite, o adicional ao salário que recebem como PMs chega a até R$ 7 mil. Para o governo do estado, tal “luxo” de se manter um verdadeiro exército à disposição do chefe da pasta não acarreta prejuízo aos cofres públicos.

Henrique Rodrigues
Jornalista e professor de Literatura Brasileira. É especialista em Estudos Brasileiros pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e tem mais de 23 mil km de sertão nordestino sobre duas rodas. É repórter, editor de colunas e artigos de Opinião e também correspondente da Fórum na Europa.