Layrton Fernandes da Cruz Vieira tinha 22 anos - Arquivo Pessoal

Por Raphael Sanz

Familiares de Layrton Fernandes da Cruz Vieira, ajudante de pedreiro de 22 anos morto em 1º de agosto em Santos durante a Operação Escudo, usaram a imprensa, nesta quinta-feira (10), para acusar dois sargentos do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) pela execução. Os parentes da vítima registraram um boletim de ocorrência (BO) e exigem que o caso seja investigado e os responsáveis punidos.

Na noite anterior, em 31 de julho, Layrton teria ido à casa de um amigo, no bairro Jabaquara, em Santos, para jogar videogame. Mas, devido à hora avançada em que a ‘jogatina’ terminou, decidiu passar a noite lá. De manhã, o dono da residência saiu para trabalhar e deixou o amigo dormindo no local.

De acordo com os relatos dos familiares da vítima, policiais do Baep chegaram ao local perto das 8h40 e viram a porta da casa aberta. Ao entrarem, encontraram Layrton dormindo e, mesmo sem acordá-lo, dispararam contra o tórax do jovem.

“Mataram ele dormindo. Ele estava com uma marca roxa na testa, outra embaixo da boca, um furo entre a testa e o nariz. Além disso, tinha um hematoma na área dos olhos”, diz um dos familiares, que não foi identificado pela imprensa por questões de segurança, à repórter Fabíola Perez, do UOL. Os parentes acreditam que o jovem continuou sendo agredido e torturado mesmo após o tiro no tórax.

O familiar relata que após receber telefonemas de conhecidos informando a respeito de Layrton, correu para o local. Chegando à comunidade, de posse de uma foto do parente, perguntou a policiais se teria sido ele a vítima, mas os policiais negaram. Mais tarde, descobriu que uma arma foi “plantada” em Layrton. “Colocaram uma arma em cima do rapaz”, diz o parente.

A vítima morava junto com a mãe, o padrasto e outros cinco irmãos. Apesar de trabalhar como ajudante de pedreiro de maneira informal, auxiliando vizinhos a transportar material de construção, tinha o sonho de se tornar jogador de futebol.

“A mãe dele só chora, toda vez que abrem a porta de casa ela acha que é ele. Queria poder olhar para o policial que atirou nele e perguntar: por que você tirou a vida dele?”, diz o familiar da vítima.

A versão da polícia

Os agentes do Baep afirmam que receberam um chamado no Morro São Bento sobre traficantes de drogas que portavam fuzis. No caminho, passaram pelo bairro do Jabaquara, em Santos, onde Layrton estava. Lá, relatam que viram de longe um “indivíduo operando um rádio comunicador”, que teria fugido ao vê-los.

Em seguida, os agentes ouviram um disparo, que acertou um deles na pélvis. Por conta disso, teriam realizado uma “varredura a cada cômodo individual” naquele ponto. Quando chegaram ao quarto onde estava Layrton, o teriam encontrado com um revólver Taurus de calibre 38.

Segundo o registro da ocorrência dos policiais, Layrton teria atirado contra os agentes, o que motivou sua execução com quatro tiros disparados pelo sargento Matheus Porto Genaro e pelo sargento Alex dos Santos Oliveira.

Os policiais alegam que encontraram o rádio no cômodo, bem como cápsulas para embalar drogas. No entanto, para a família, todas essas apreensões fazem parte do famoso ‘kit flagrante’. A denúncia dos parentes aponta que a arma, o rádio e as cápsulas de plástico foram plantadas no local. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo emitiu nota pública anunciando que irá apurar a ocorrência.