Reprodução/Arquivo de família

O número de vítimas que faleceu ou teve sequelas depois de ser tratadas pelo falso médico Doutor Henry, na realidade Sergio Raimundo de Oliveira Ribeiro, de 53 anos, que utilizava documentos furtados do oftalmologista Henry Cantor Bernal, não para de aumentar. Na Praia Grande, no Hospital Irmã Dulce, ele “atendeu” do aposentado Otávio Laurindo Lopes, aposentado, 70 anos, por três dias e ele faleceu.

A família de Lopes ficou indignada e já tem um advogado que vai processar os responsáveis pela contratação de Dr. Henry. A filha do aposentado disse que o pai ficou internado por 12 dias no Irmã Dulce. “Na primeira semana, não lembro o se o nome da médica era Paula, que atendia ele. Toda vez que eu ia visitar, ela dizia que ele estava melhor, que estava diminuindo o oxigênio e se continuasse assim ia liberar para ir para casa na outra semana e passar apenas um calmante para poder dormir bem”, disse, lembrando que o pai estava com início de Mal de Alzheimer.

Neia afirmou que ia todos os dias ao hospital. No dia 24 de maio, a médica revelou que Otávio não estava nem melhor nem pior, mas estável. “No dia seguinte, minha irmã foi e quem a atendeu foi o falso médico. Ela voltou chorando. O Dr. Henry disse que ele teve uma piora, não estava bem e se continuasse assim ele ia ter que ir para a UTI”. Na terça-feira, dia 26, Neia conversou novamente com Sergio Raimundo de Oliveira Ribeiro e argumentou que a médica tinha dito que ele estava melhor e ele reiterou que Otávio não estava bem e que havia solicitado a transferência para uma UTI com urgência.

“Ele falou que ele estava com falta de ar e que estavam em cima dele de três em três horas, com uma equipe médica”. Sobre a melhora que a outra médica falou. Dr. Henry disparou: “Estou dando meu melhor, eu sou neuro (neurologista). Foi até bom eu vir para esse andar, sou neuro, entendo muito da cabeça. Seu pai talvez nem fique bem”, lembrou a filha.

Neia contou que Dr. Henry frisou que “meu pai não estava preparado para receber essa doença”. Na quarta, dia 27, o falso médico afirmou que Otávio não estava bem e estava esperando uma transferência, pois o hospital não suportava o estado dele. “Perguntei, mas não tem UTI aqui? Ele respondeu: “Mas como seu pai está não suporta. Fiquem ligados que a qualquer momento podem ligar para vocês que ele vai ser transferido de hospital”

Ela contou que estavam em casa na quinta-feira, dia 28, quando ligaram do hospital, 5h30 da madrugada. Quando chegaram foram atendidos pelo falso médico Dr.Henry. Ele começou a discursar. “Fiz meu melhor, sou neuro, acompanhei o Sr. Otávio, ele não teve um bom desenvolvimento, se queixando de muitas dores”, disse. Neia revelou que o falso médico ficou enrolando e declarou: “Infelizmente deu positivo o Covid-19 e ele veio a óbito.Lamento pela perda de vocês. A gente fez o que podia. É como a gente ter perdido um membro, pois quando a gente perde um paciente é uma pedaço da gente que vai. Me desculpe. Fiz o que pude”.

Dr. Henry abraçou a mãe de Neia e disse que se ela precisasse de qualquer coisa podia procurar ele. “Perguntou também se minha mãe tinha dinheiro para fazer o velório que a gente podia contar com ele se tivesse que ir ao hospital.E ainda disse ‘guarde meu nome, meu nome é Henry’. Minha mãe abençoou ele”.

Otávio tinha 70 anos -Foto: Divulgação/Arquivo de família

A filha disse que foram embora e esta semana descobriram que o aposentado foi tratado por um falso médico. “Nos últimos três dias ele cuidou do meu pai. Pegou o caso, meu pai começou a cair, veio a óbito na mão dele”.

A família já contratou um advogado que foi ao Irmã Dulce e que existem muitos casos envolvendo o falso médico lá. Ela revelou que outras famílias perderam seus entes queridos na mão do Dr. Henry. “Na noite que ele faleceu, eu ouvi uma enfermeira falando que tinham morrido oito pessoas naquela noite, todos homens”.

Internação
Otávio tinha Alzheimer. Ele estava com tosse seca e foi normalmente para a UPA onde fez uma radiografia e ficou constatada uma pneumonia. Dai, foi levado para o Hospital Irmã Dulce. “Não tivemos mais contato com ele. Procuramos até assistente social. Ela disse que não tinha acesso ao segundo andar, pois lá estavam as pessoas com coronavírus. Um falso médico ficou cuidando do andar que cuidava dessa doença. A outra médica que cuidava pegou a doença e estava internada. Colocaram esse homem lá”.

“Ele matou meu pai. Não era médico e não estava preparado para atender pessoas que estavam tão sensíveis. Um enfermeira que denunciou tudo. Toda medicação que ele dava não estava correta. Elas iam falar que estava errado e ele dizia ‘Quer saber mais do que eu que sou médico’. Soube de um pessoa diabética não podia tomar glicose, ele deu e o cara entrou em óbito na hora. Parece que tem processo por assédio e um monte de coisa. Meu pai era um cara forte, brincalhão. Difícil entender isso”.