Quando a gente pensa que já viu de tudo, vem uma novidade e mostra que estamos errados. Uma dupla de policiais militares (PMs) de São Paulo, lotada em Santos, foi presa esta semana a pedido do Ministério Público (MP) acusada de integrar e comandar um esquema que realizou 400 balanceamentos, 200 alinhamentos e mais de 80 trocas de pneus em viaturas da corporação, tudo num período de dois dias.
Segundo os promotores, o golpe tinha a finalidade de realizar serviços desnecessários, em parceria com oficinas credenciadas, para que os envolvidos ficassem com o dinheiro público empregado nos reparos. A ação seria inspirada numa cena do filme “Tropa de Elite”, que mostra justamente uma quadrilha de PMs do Rio atuando para fraudar consertos em viaturas e embolsar os valores liberados pelo estado.
Segundo os autos do inquérito, o sargento Evandro Lopes dos Santos e o cabo Vitor Ribeiro eram lotados como auxiliares na Seção de Motomecanização do Comando de Policiamento do Interior 6 (CPI-6), a divisão a quem cabe realizar a segurança da Baixada Santista e do Vale do Ribeira. Eles seriam os responsáveis por confeccionar a papelada que mostraria a necessidade de reparos nas viaturas da PM.
Afirmando que os PMs poderiam destruir provas e interferir nas investigações, a promotora Mariana Padulla de Souza pediu à Justiça a prisão preventiva do cabo e do sargento, que foi deferida pelo juiz Luiz Alberto Moro Cavalcante.
“Em síntese, policiais militares, que têm a missão de combater a criminalidade e de dar bom exemplo aos demais, quando se desviam da missão, mudam de lado, e passam a utilizar os poderes que lhe são delegados pelo Estado para se enriquecerem ilicitamente, praticando crimes graves, certamente comprometem a ordem pública e ameaçam ou atingem as normas da hierarquia e disciplina. E, por fim, se mantidos em liberdade, comprometem a produção da prova, devem ser presos e mantidos no cárcere até enquanto persistirem esses motivos”, disse o juiz em seu despacho ao autorizar a prisão.
Dono de oficina temia represálias
O MP enfatizou ainda no documento que o dono de uma das oficinas credenciadas para reparos nas viaturas já havia manifestado medo de sofrer represálias, uma vez que um dos envolvidos já sabia ser alvo das autoridades sob suspeita de estar cometendo crimes.
“Os militares soltos podem destruir ou extraviar documentos ligados aos processos de licitação ocorridos, coação de testemunhas, sendo um notório exemplo, no presente caso, a do proprietário da empresa envolvida no esquema criminoso, que enfatizou temer pela sua incolumidade física após o 1º Sgt PM Evandro ter ciência de que seria ouvido pela Corregedoria da PM-SP”, escreveu a promotora do caso.