Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por Danilo Tavares*

Este termo, muitas vezes desconhecido, refere-se ao preconceito e à discriminação contra pessoas portadoras de transtornos mentais. Imagine um mundo onde o medo e a aversão em relação às doenças mentais são tão arraigados na sociedade que acabam por marginalizar e excluir aqueles que mais precisam de apoio e compreensão. Esta é a psicofobia, um preconceito que, assim como qualquer outro, traz consequências devastadoras para aqueles que o enfrentam.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 10% da população mundial, ou cerca de 720 milhões de pessoas, sofrem de transtornos mentais. No Brasil, esse problema não é diferente, o país possui o terceiro pior índice de saúde mental do mundo, com mais de 11 milhões de pessoas sofrendo de depressão, fora os demais transtornos. E esses números, infelizmente, estão em constante crescimento.

Por trás das estatísticas alarmantes estão histórias de indivíduos que enfrentam batalhas diárias contra transtornos psicológicos, como a depressão, ansiedade, transtorno afetivo bipolar, TEA e o TDAH. Imagine acordar todos os dias lutando contra uma batalha interna invisível para os olhos alheios, mas que impacta cada aspecto da sua vida. Essas pessoas são nossos(as) amigos(as), familiares, colegas de trabalho – são parte integrante da nossa sociedade.

Consultei a psicóloga clínica Millena Almeida Santos, especializada em psicologia jurídica e avaliação psicológica, pós-graduanda em Terapia Cognitivo Comportamental e em Psicologia Hospitalar e Saúde, que me disse: “Historicamente, as pessoas com transtornos mentais têm sido estigmatizadas e isoladas pela sociedade. Foram feitos alguns progressos no combate à discriminação das perturbações mentais, mas a luta para quebrar estereótipos na saúde mental continua”.

A exclusão, o bullying, a invisibilidade e a desumanização são apenas algumas das muitas faces do preconceito que assola aqueles que sofrem com transtornos mentais. Desde a infância até a velhice, essas pessoas enfrentam uma batalha árdua contra a estigmatização e a discriminação, que muitas vezes começam com simples adjetivos usados de forma leviana.

Devemos ter cuidado com a nossas falas no dia a dia, chamar alguém de “bipolar” por mudar de opinião, rotular como “esquizofrênico” quem parece confuso ou tachar de “autista” aquele que fala pouco são práticas comuns que contribuem para a descredibilização dos transtornos mentais. Infelizmente, o estigma em torno das doenças mentais continua sendo um obstáculo significativo para aqueles que buscam ajuda e apoio. São desde comentários discriminatórios até a recusa em oferecer oportunidades iguais no mercado de trabalho.

“A psicofobia é muito destrutiva, perpetua esse problema e pode fazer com que os pacientes abandonem ou não busquem recursos necessários, como terapia e tratamento para melhorar a sua qualidade de vida. Temos que lutar contra esta discriminação, procurar informação, respeitar os outros, não estamos imunes aos problemas psicológicos”, complementa Millena Almeida Santos.

No Brasil, mais de 75% das pessoas com algum transtorno psiconeurológico não recebem assistência adequada para sua condição. Esse cenário é ainda mais preocupante quando consideramos que o efeito mais grave desse tipo de violência pode ser a morte. Problemas de saúde mental negligenciados podem levar ao suicídio, tornando-se uma das principais causas de morte entre jovens em todo o mundo.

Imagem: Reprodução

Suicídio está quase sempre associado a doenças mentais não tratadas. No Brasil, 38 pessoas morrem diariamente dessa forma, com um aumento alarmante de 49,3% na taxa de adolescentes de 15 a 19 anos e 45% na faixa etária de 10 a 14 anos, entre 2016-2021. Acesso limitado a tratamentos psiquiátricos e a falta de informações de qualidade contribuem para essa realidade.

Uma pesquisa da Ipsos mostra que a preocupação com a saúde mental tem crescido significativamente nos últimos anos. Em 2018, apenas 18% dos brasileiros mencionaram a saúde mental como uma de suas principais preocupações. Em contrapartida, em 2023, esse percentual subiu para impressionantes 52%.

A saúde mental é uma questão de saúde pública e, como tal, requer uma abordagem séria e compassiva. Diante desse panorama, a legislação emerge como uma ferramenta crucial na luta contra a psicofobia. Existe a Lei 236/2012, que torna crime de discriminação o abuso ou desrespeito contra pessoas com transtorno ou deficiência mentais. Mas ainda precisa de lei que enquadre a psicofobia no Código Penal como injúria.

Neste Dia Nacional de Combate à Psicofobia (12 de abril), vamos nos unir para desconstruir estigmas, promover a inclusão e criar um mundo onde todos tenham a oportunidade de viver uma vida plena e significativa. É hora de mudar essa realidade. É hora de promover a empatia, o respeito e a compreensão em relação às doenças mentais. É hora de reconhecer que todos nós somos vulneráveis e que a saúde mental é uma parte essencial do nosso bem-estar geral. Juntos, juntas e juntes, podemos fazer a diferença.

*Danilo Tavares é portador de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, depressão e transtorno de ansiedade. É produtor cultural, documentarista, coordenou diversas oficinas de cinema digital, é gestor e desenvolve propostas de projetos para editais culturais e sociais. Atualmente é proprietário da Zopp Criativa Produções, empresa com selo Estratégias ODS, diretor de projetos do Clube do Choro de Santos, membro do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista e diretor da Casa Crescer e Brilhar (São Vicente). Instagram: @dantavares420.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do Folha Santista.