Pelo menos 70 crianças foram avaliadas pelas investigações, e os resultados mostraram uma relação direta entre as substâncias encontradas nas suas amostras e pesticidas usados para o controle de pragas em lavouras.
Os casos de câncer na região de Aunis têm sido notados desde 2018, quando os estudos começaram a ser conduzidos, com alta incidência especialmente entre os mais jovens. De acordo com a Liga Contra o Câncer e o Instituto Nacional de Saúde franceses, em Saint-Rogatien, em uma vila com apenas dois mil habitantes há uma incidência quatro vezes maior de câncer infantil.
Os maiores níveis das substâncias encontradas, como a fitalimida (produto gerado pela decomposição de um fungicida cancerígeno), o acetamipride (neurotóxico que permanece no ambiente por longos períodos após o uso) e a pendimentalina (classificada de alto risco por seu potencial cancerígeno), foram identificados em crianças.
Casos de pesticidas transferidos durante a gravidez, via placenta, também já foram alvo de investigação judicial no noroeste da França. Uma mulher que manejou produtos infectados com os pesticidas durante a gravidez apelou ao Tribunal de Rennes pela morte de sua filha de 11 anos, em 2022, vítima de câncer.
De acordo com o Fundo de Indenização às Vítimas de Pesticidas (FIVP), a morte da garota tinha relação direta com a exposição da mãe aos tóxicos durante seu pré-natal. A organização ofereceu 25 mil euros de indenização aos pais da criança.
Leis rigorosas
A União Europeia (UE) tem uma das legislações mais rigorosas do mundo quando se trata da regulação de pesticidas, que incluem a proibição de neonicotinoides como o acetamipride, uma das substâncias encontradas nas análises biológicas do caso investigado.
Além disso, a estratégia “do prado ao prato”, lançada pela UE em 2020, quer reduzir o uso de pesticidas à metade até 2030 e incentivar práticas de agricultura orgânica.