Por Alice Andersen
Há diversos tipos de vício, para além das telas dos celulares. É possível que se aumente a frequência de consumo de açúcares, narcóticos, trabalhar demais ou assistir séries muitas vezes.
Em seu mais recente livro, “Geração de dopamina”, a psiquiatra Anna Lembke, a maior autoridade em Medicina do Vício na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, discute a famosa dopamina, os pequenos vícios que nos cercam diariamente e a relação complexa entre felicidade e prazer.
“Vivemos em um mundo viciado. Não conheço ninguém que não esteja lutando contra o consumo compulsivo: se não é mídia visual, é smartphone ou comida”, afirma. Sua perspectiva como autora inclui não apenas suas experiências na prática clínica, mas também sua visão sobre o mundo e os desafios que enfrentamos todos os dias.
Anna oferece soluções práticas para controlar o consumo obsessivo-compulsivo em seu novo livro, publicado pelo MIT. Ela sugere regular a dopamina para recuperar o bem-estar, o que significa “menos prazer, mais felicidade”. Seu livro foi descrito como “o trabalho médico mais importante da década”.
“Queria mostrar que não é um problema individual, mas coletivo. Entramos em um momento inédito na história, em que todos estamos vulneráveis ao problema da dependência. Não é que haja um problema de dopamina no meu cérebro ou no seu, há um problema de dopamina no mundo”, diz a especialista ao explicar o título da obra.
O que é dopamina?
A dopamina é um neurotransmissor produzido em nosso cérebro que atua como uma ponte entre os neurônios, permitindo a harmonia dos impulsos elétricos. Assim que fazemos algo prazeroso, a dopamina é liberada no caminho de recompensa, causando uma sensação de bem-estar. Isso é fundamental para a experiência de prazer, recompensa e motivação. É proporcional: quanto mais dopamina algo libera, mais potencialmente viciante ele se torna.
Vive-se em um mundo cada vez mais viciante, com novas versões de drogas, videogames e redes sociais mais viciantes do que nunca. Além disso, essas substâncias e comportamentos estão mais acessíveis, aumentando o risco de vício.
Por que redes sociais geram tanto vício
Como uma eficiente ferramenta de conexão com outros seres humanos, o celular se tornou um meio de “sobrevivência”. De acordo com Anna, as comunicações nas redes se tornaram muito poderosas e não é preciso mais se deslocar para se conectar com outras pessoas, que parecem mais atraentes em razão dos filtros e iluminações das redes.
Isso, combinado com uma tela de luz, storytelling e curtidas, transforma as redes sociais em uma droga muito poderosa e imediatamente acessível. Um exemplo citado pela especialista é o Tik Tok, que nunca acaba e é infinito. “E quanto mais expomos nosso cérebro a essa ‘droga’, mais precisamos continuar usando para nos sentirmos bem”.
Para completar, o algoritmo reforça o vício. “Eles aprendem o que gostávamos antes e nos enviam o tempo todo, o que estimula esse ciclo compulsivo e repetitivo”, afirma. Ao mesmo tempo, não é possível deixar de usar “totalmente” as redes sociais. “É importante entender que as drogas digitais, assim como a alimentação, fazem parte de nossas vidas. Muitos de nós não podemos parar de usar as mídias digitais, pois elas são parte do nosso trabalho”.
Ela acredita que é possível viver vidas muito melhores se ficar atento ao problema do vício, mantendo a intenção de não ser interceptados por esses comportamentos e substâncias viciantes que nos cercam. Segundo o portal TechTudo, algumas medidas podem ajudar a reduzir o vício em smartphones, como o bloqueio de notificações de aplicativos, o uso de apps de produtividade, a ativação de lembretes diários, entre outras.
*Com informações de O Globo