A velocidade de propagação do novo coronavírus entre profissionais da área de saúde preocupa os trabalhadores que atuam na linha de frente do combate à doença. A cada dia é possível observar mais médicos, enfermeiros, assistentes, fisioterapeutas, que precisam ser afastados de suas funções, porque contraíram o vírus.
Um deles é Marcos Caseiro, infectologista, que atua na Secretaria Municipal de Saúde de Santos e é professor da Faculdade de Medicina da Unilus e do curso de pós-graduação da Unisanta. Ele e a esposa, que também é infectologista, testaram positivo para o novo coronavírus.
Em entrevista ao Folha Santista, Caseiro, que agora está melhor dos sintomas, revela o que sofreu fisicamente, além do medo e da ansiedade provocados pela Covid-19.
O médico destaca que a capacidade de transmissão desse vírus “é impressionante” e, em relação à Baixada, faz questão de enfatizar que a quantidade de casos é muito grande. “As pessoas, quando observam 15 óbitos, dizem: ‘Só morreram 15’. Mas, proporcionalmente, esse número é muito elevado. As pessoas têm que ter essa clareza. Não se pode abrir a guarda em momento nenhum”, orienta.
Folha Santista: Como você está fisicamente, o que está sentindo em termos de sintomas?
Marcos Caseiro: Tive febre, dor muito intensa no corpo, uma mialgia (dor muscular) bastante importante, desconforto e muito cansaço. Era só subir uma escadinha, já sentia falta de ar. Pelo quarto dia, eu perdi o olfato, que se chama anosmia, e o paladar, a ageusia. Agora, estou melhor, passei a pior fase, mas ainda me sinto muito cansado. Logo volto ao trabalho, certamente com imunidade, para atender esses muitos doentes que têm aqui.
Folha Santista: Do ponto de vista psicológico, mesmo sendo da área da saúde, você sentiu ansiedade ou medo, quando soube do diagnóstico?
Caseiro: Sem dúvida, bate muita ansiedade. Tenho 57 anos. Isso, ainda que pareça claro que existam algumas situações em que o risco é maior, com indivíduos acima de 80 anos. Aliás, acima de 60 anos, o risco já começa a aumentar. Também há o quadro de comorbidades, ou seja, indivíduos com sobrepeso, obesos, hipertensos, diabéticos. Todos são fatores relacionados à maior gravidade. Apesar disso, existem aspectos que ainda não estão claramente definidos. Você fica com bastante medo, dá muita ansiedade. Essa série de coisas vem à cabeça, principalmente porque você conhece mais a fisiopatologia da doença. Então, você fica muito apreensivo. Mesmo assim, acho que eu estava preparado para isso, imaginando que eu poderia me contaminar, que eu poderia pegar essa doença, como aconteceu.
Folha Santista: Como você analisa o quadro atual, em que cada vez mais os profissionais de saúde estão testando positivo?
Caseiro: Eu tomei todos os cuidados. Minha mulher é infectologista também e supercuidadosa. Mas é muito difícil. Eu atendi dezenas de pacientes que resultaram positivo. Por mais cuidado que você toma, realmente a capacidade de transmissão desse vírus é muito grande, é impressionante. Então, obviamente, para os profissionais que estão na linha de frente, a chance de se contaminar é muito maior.
Folha Santista: O que pode dizer em relação à demora dos resultados dos exames, essa situação não provoca subnotificação de casos?
Caseiro: Essa é uma questão. Os exames, realmente, estão demorando muito. É um enorme problema. O meu exame demorou quatro dias para chegar. A gente tem tido uma dificuldade grande com isso, o que dificulta o diagnóstico. Além do mais, a subnotificação é tremenda, porque o indivíduo que tem poucos sintomas não interna, não colhe o exame. Então, a maioria dos indivíduos que está se infectando não faz exame e nós não teremos esses números.
Folha Santista: Qual sua projeção para a Baixada Santista? Muita gente diz que a situação vai ficar mais crítica do que já está. O que diz?
Caseiro: Em relação à projeção da Baixada, o nosso número é muito grande. As pessoas quando observam 15 óbitos dizem: ‘Só morreram 15’, agora 18. Mas, proporcionalmente, esse número é muito elevado. As pessoas têm que ter essa clareza. No caso do coeficiente de incidência, por exemplo, Santos tem um número, proporcionalmente, seis vezes maior do que a média brasileira. A média no Brasil é de 110,4 casos por milhão de habitantes. Em Santos, já temos 623,1. Temos uma situação importante e não se pode abrir a guarda em momento nenhum.