De acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade tem 13.436 habitantes. No entanto, segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral paulista, o município tem 13.538 títulos eleitorais registrados.
Marcos Pontes Caduti, membro da associação de pescadores artesanais de Ilha Comprida, tem uma pista para explicar o mistério. Ele publicou um artigo em que denuncia que a cidade é alvo de “turismo eleitoral”.
“Diversos relatos indicam a chegada de eleitores que não residem na cidade, com ônibus fretados vindos de regiões distantes do interior de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Esse movimento levanta sérias suspeitas sobre a legitimidade do processo eleitoral, já que muitos desses eleitores podem estar votando ilegalmente para favorecer determinados candidatos”, escreveu o homem em artigo enviado à reportagem.
Segundo seu relato, o mesmo grupo político governa a cidade há 32 anos, “e finge uma rivalidade para enganar o eleitorado”. A situação estaria ocorrendo praticamente desde a redemocratização. Ou, para ser mais exato, desde que a localidade se tornou um município emancipado, em março de 1992.
Geraldino Júnior (PL), o último prefeito eleito, teve seu mandato cassado há duas semanas por se recusar a responder requerimentos da Câmara Municipal. A cassação foi aprovada por 7 dos 9 vereadores. Ele recorre da decisão e, no meio tempo, a vice-prefeita Maristela Cardona (Republicanos) ocupa seu lugar.
Segundo Caduti, o turismo eleitoral dá a tônica das eleições. “Há cabos eleitorais que só aparecem na cidade a cada quatro anos. Um deles é fazendeiro em Santa Catarina e Goiás, mas a população desconfia que ele é laranja de algum poderoso da cidade e pode estar fazendo parte de um grande esquema de corrupção”, escreveu.
O morador aponta preocupações acerca de possível compra de votos por meio da troca de benefícios entre candidatos e eleitores, o que, se confirmado, comprometeria a transparência das eleições locais. “Além disso, circulam na cidade rumores de que um ex-prefeito exerce um controle significativo sobre 12 partidos políticos, consolidando um poder que muitos consideram excessivo e antidemocrático”, completou.
Setores da cidade se organizam para denunciar
Revoltados com as suspeitas, setores da população da cidade se organizaram para fazer uma denúncia aos órgãos eleitorais competentes, pedindo fiscalização e apuração das supostas irregularidades. Também pedem a presença de observadores independentes como meio de garantir a lisura do processo eleitoral.
“Diversos grupos de WhatsApp, Facebook e Telegram já estão com cabos eleitorais e pré-candidatos fazendo campanha eleitoral desde abril. A violência verbal e ameaças de agressão contra a integridade física e até a vida de pessoas são constantes nesses grupos nas redes sociais. Num passado próximo, houve casos de assassinatos motivados por desavenças na política”, finaliza o morador.