Telma de Souza - Foto: Divulgação

A santista Telma Sandra Augusto de Souza, de 79 anos, é dona de uma extensa trajetória política e tenta voltar à prefeitura de Santos. Ela comandou o Executivo da cidade de 1989 a 1992.

É pedagoga, advogada e mestre em Saúde Pública. Além de ter sido prefeita, foi duas vezes deputada estadual e exerceu quatro mandatos na Câmara dos Deputados. Também foi eleita quatro vezes vereadora, a última delas em 2020, quando foi a mais votada, com 8.381 votos.

Médico sanitarista, clínico geral e previdenciário, Márcio Aurélio Soares, do PDT, é candidato a vice na coligação “A Santos que a Gente Quer”, que leva o número 13.

Folha Santista: Por que a senhora é candidata a prefeita de Santos?
Telma de Souza:
Temos a necessidade de levar ao eleitor uma proposta em que as pessoas estejam no centro de decisão das políticas pública a serem desenvolvidas. Desde o segundo semestre de 2023 eu recebo representantes de diversos partidos que buscavam a liderança para uma chapa mais progressista e desenvolvimentista para concorrer à prefeitura de Santos. As duas outras candidaturas que se apresentavam então, polarizando o horizonte eleitoral, eram muito próximas uma da outra quando falamos em forma de enfrentar os desafios de Santos. O meu nome, dessa forma, surgiu naturalmente como o indicado para representar todo esse campo político, que defende desenvolvimento econômico aliado à justiça social e que, no fundo, é a tônica dos Governos Lula, de crescimento com o olhar especial aos mais vulneráveis economicamente.

Folha Santista: Quais são os principais eixos do seu plano de governo?
Telma:
Saúde, Educação, Mobilidade, Segurança, Habitação, Economia, Assistência Social e Enfrentamento Ambiental aos efeitos das mudanças climáticas são os principais, mas quem conhece a minha trajetória sabe que eu tenho um cuidado especial com a Cultura, seja popular ou erudita.

Folha Santista: A cidade vem perdendo empregos no Porto de Santos, o que a senhora pretende fazer para que isso se reverta?
Telma:
Com as tecnologias, os empregos acabam por ser muito prejudicados. O porto tem de crescer mais, mas sem riscos ambientais, como o terminal de gás, com os seus navios-bomba e o armazém de amônia, que causou uma tragédia em Beirute em 2020. São projetos do novo Plano de Desenvolvimento e Zoneamento, uma herança maldita do governo Bolsonaro.  Precisamos, sim, acelerar a implantação no porto da Zona de Processamento de Exportações (ZPE), que já possui estudo de viabilidade do Ministério dos Portos e Aeroportos, com a implantação de um regime aduaneiro diferenciado, para estimular exportações e criar empregos em indústrias não poluentes, especialmente as de tecnologia. Esse mesmo estudo do Governo Federal indicou que Santos possui área adequada para a chegada de atividades industriais com foco em tecnologia, de alto valor agregado e baixo impacto ambiental. As empresas que futuramente se instalarem ali devem gerar milhares de empregos com salários de alta renda. Essas indústrias terão como atrativo, para vir para cá, tratamento tributário e cambial específicos, entre outros.

Folha Santista: O que pode ser feito para atenuar as questões referentes ao meio ambiente e como observa a instalação da usina de incineração de lixo em Santos?
Telma:
As alterações climáticas estão aí já. Os efeitos do aquecimento já são sentidos, com fortes temporais, alagamentos por toda a cidade, riscos nos morros e em áreas de maré. Em março de 2020, chuvas concentradas em 24 horas deixaram oito óbitos e mais de duas centenas de desabrigados no município. Talvez tenha sido só um aviso. As areias das nossas praias apresentam um regime nunca visto antes. Precisamos de um plano efetivo da Defesa Civil e do Meio Ambiente, incluindo a Educação. Santos já possui iniciativas com o seu Plano Municipal de Ação Climática, com a implementação de estratégias, diretrizes e metas de adaptação e mitigação para fazer frente à crise climática e às vulnerabilidades por meio de parceria com o Projeto de Apoio ao Brasil na Implementação, em cooperação com a Alemanha. Ocorre que as medidas devem ser aceleradas e conhecidas da população e dos jovens. Quem conhece e quem apoia? Vamos colocar o enfrentamento às mudanças do clima no currículo escolar. Quanto ao incinerador de lixo, eu tenho como vereadora um projeto, que aguarda votação, e que proíbe a instalação desses equipamentos poluentes, potencialmente cancerígenos e que queima aquilo que poderia ser reciclado. Ou seja, tira renda dos catadores, das cooperativas e polui. Vamos, sim, por meio da economia solidária, aumentar a indústria da reciclagem, que começa com catadores com veículos adequados, não poluentes e seguros, e que emprega nossa gente com menor grau de instrução.

Folha Santista: A senhora tem alguma proposta para a revitalização do Centro? O que pretende fazer nesta região da cidade?
Telma:
O Centro deve ser, como era no passado, uma área mista, de serviços e moradia. De certa forma, ainda é. Temos um Centro Histórico que passou por revitalizações esporádicas. O Alegra Centro não alcançou êxito, porque apenas quem se instalava lá aderiu e conseguiu isenções. Para funcionar, tem que dar isenção para qualquer contribuinte de porte que quiser financiar os restauros. Com a chegada do Parque Valongo, que ainda está longe de ser altamente atrativo, e com a mudança para o Outeirinhos, haverá um grande desenvolvimento e novos serviços no Centro. Abrigar novos empreendimentos habitacionais e recuperar, ou quase reconstruir casarões históricos, pelo menos a fachada, para transformá-los em habitações plurifamiliares é um caminho. O Minha Casa Minha Vida tem R$ 1 bilhão reservado para projetos do gênero, de recuperação para habitação de casarios históricos.

Folha Santista: Quais propostas tem para a área de cultura e turismo da cidade?
Telma:
Temos um grande projeto que seria um marco para a Cultura da cidade que é a transformação da Hospedaria dos Imigrantes numa grande área de cultura e lazer, com áreas cobertas e ao ar livre. É uma região da cidade que necessita de revitalização e essa “nova hospedaria”, com espaço multicultural e recuperação de algumas características arquitetônicas, seria de grande valia para a população e o Turismo. Também gostaríamos de mudar um pouco o formato de como se faz política cultural aqui. De fato, queremos fazer política cultural e não de eventos, que é o que se vê agora. Precisamos incentivar mais as artes periféricas, que têm grande aceitação popular e leva Lazer e Cultura para territórios que pouco acesso têm a essas possibilidades, que são essenciais na vida das pessoas.

Folha Santista: O que pretende fazer para melhorar o atendimento na área de saúde, especialmente nas especialidades?
Telma:
As especialidades são um problema grave, porque há casos de meses, ano, sem atendimento ou tratamento preconizado. Eu, como presidente da Comissão de Saúde da Câmara, fui ao Ministério Público denunciar as filas por especialidades. Havia casos de mais de um ano para uma consulta. A prefeitura alegou aos promotores que o problema seria resolvido com o novo ambulatório de especialidades. E não foi. Houve a pandemia, que represou muitas consultas, exames e cirurgias, mas ela já acabou há mais de dois anos. Faremos mutirões, com o uso massivo das redes pública e privada. Também temos a necessidade de um centro que ofereça, num mesmo dia consulta, exame e encaminhamento para os tratamentos adequados, inclusive cirurgias. Por outro lado, vamos tomar as medidas para que se evite a formação dessas grandes filas novamente.  Ou seja, melhorar a gestão.