A menina de 10 anos que ficou grávida após ser estuprada pelo tio em São Mateus, no Norte do Espírito Santo, precisou ser levada no porta-malas de um carro para realizar o aborto no hospital. A medida foi tomada para que a criança não fosse exposta ao protesto que acontecia em frente à instituição.
“Tivemos que lançar mão de estratégias bem delicadas, como colocar a avó e a menina no porta-malas do carro que as levou para o hospital, porque fomos informadas pela diretoria do Cisam [Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros] que existia uma movimentação muito hostil em frente à maternidade. Uma situação constrangedora e humilhante”, contou a enfermeira obstetra Paula Viana, coordenadora do grupo Curumim.
De acordo com a enfermeira, a criança entrou no hospital pelo portão dos fundos da maternidade. Após o procedimento, a menina teria dito que queria voltar para casa para jogar futebol.
“A primeira etapa do procedimento ocorreu prontamente. A menina foi muito bem acolhida pela equipe e seguiu para uma área reservada. A avó acompanhou e foi ouvida pela equipe que explicou todos os procedimentos que seriam feitos para a criança. Ela, uma criança negra, calada e com um olhar muito triste, mas com um depoimento muito bonito: ‘eu tô bem, quero voltar logo, porque quero jogar futebol’. O tempo todo ela ficou agarrada a uma girafa de pelúcia e isso comoveu bastante toda a equipe, porque a gente viu o quanto de inocência e sofrimento que aquela criança tinha passado”, relata Paula.
O juiz Antônio Moreira Fernandes, do Tribunal de Justiça do Espírito Santos, atendeu a um pedido do Ministério Público Estadual (MP-ES) no sábado (15) para permitir que a menina, vítima de abuso, pudesse realizar um aborto. Grupos de extrema-direita e cristãos conservadores, no entanto, se mobilizaram para tentar impedir que ela interrompesse a gestação.
Leia a reportagem completa de Paula Guimarães no portal Catarinas.