Os efeitos das mudanças climáticas, cada dia mais frequentes e agudas, podem trazer consequências assustadoras. Estudo realizado por pesquisadores do Instituto Geológico e da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) aponta previsões nada animadoras: parte do estado de SP pode ficar até 6°C mais quente até 2050, além de ter ondas de calor que ultrapassam 150 dias.
O artigo foi divulgado pela Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC). A entidade cobra do governo paulista iniciativas reais para conter o avanço do aquecimento no estado, de acordo com reportagem de Gustavo Honório, no G1.
O governo divulgou uma nota em que afirma que “a Secretaria do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de SP tem compromisso com a ambiental e resiliência climática e possui um aparato de programas voltados para o equilíbrio ambientalista do estado. Desde 2022, a pasta possui o Plano de Ação Climática (PAC) 2050 e o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE-SP), que mapeiam cenários climáticos globais para aplicação e gestão de riscos ao estado”.
Os pesquisadores avaliaram dados climáticos entre 1961 e 1990 e os compararam com projeções para o período de 2020 a 2050.
O trabalho foi assinado por Gustavo Armani e Nádia Lima, do Instituto de Pesquisas Ambientais, por Maria Fernanda Pelizzon Garcia, da Cetesb, e Jussara de Lima Carvalho, da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de SP.
Uma das conclusões do estudo é que deve ocorrer um aquecimento da atmosfera menos intenso na faixa litorânea (devido ao controle exercido pelo oceano), e maior na região Noroeste, mais afastada do Oceano Atlântico.
Para a temperatura máxima anual, os cientistas identificaram aumento em todo o estado, variando de 0,5°C a 1,5ºC no Litoral Norte e na Baixada Santista.
Outra conclusão é que para parte do estado haverá redução nos totais anuais de chuvas, sendo que, no Norte e Noroeste, todos os cenários indicam tendência de redução.
“Do ponto de vista climatológico, e com as projeções consensuais na temperatura, a redução na precipitação é o pior cenário a ser enfrentado, dado o caráter essencial à vida que a água se reveste”, destacam os pesquisadores.
“A agricultura e o abastecimento de água nas cidades podem sofrer seriamente nessas condições caso ajustes nas ações de consumo, armazenamento e recuperação de áreas produtoras de água (nascentes) não sejam adequados à nova realidade”, acrescentaram.
Eventos extremos
Em um dos cenários indicados pela pesquisa, as ondas de calor podem atingir até 150 dias.
O estudo apontou, também, que as chances de eventos climáticos extremos aumentarão muito, com alternância entre clima seco e chuva forte, provocando deslizamentos de encostas, inundações e erosões, especialmente nos litorais Sul e Norte.
“A gente está vendo o quanto esses eventos extremos têm ocorrido. A gente acha que não pode piorar, mas o pior não tem limite. A gente viu o Vale da Morte, na Califórnia, chegando a quase 50°C, o Norte da África, Trípoli, na Líbia, ou mesmo todos esses incêndios que estão tendo no Sul da Europa. É o globo inteiro, não é aqui ou acolá”, ressaltou o professor Ricardo de Camargo, da Universidade de São Paulo (USP).
Camargo destacou que as consequências podem ser tão graves a ponto de colocar em risco as pessoas mais vulneráveis, como crianças pequenas e idosos.
Ele exemplificou com as mortes provocadas pelas ondas de calor na Europa nos últimos anos. “A nossa população está envelhecendo, isso pode representar um problema de saúde pública”.