O pesquisador George Mattox, da UFSCar, um dos autores do estudo, explica que o peixe-rei é uma espécie onívora, que se alimenta de plantas, algas e outros peixes, e pode consumir esses fragmentos de plástico por engano. “Muito provavelmente, ele ingere as partículas sintéticas porque elas têm o mesmo tamanho e a mesma cor do alimento natural”, destaca. A maior parte das partículas coletadas era transparente ou azul e contava com formato fibroso, enquanto o tamanho da fibra se mostrou relacionado com o porte do peixe.
Territórios analisados
Os pesquisadores analisaram as praias de Barra Seca e Perequê-Açú. Segundo os dados, a praia de Barra Seca foi a que apresentou valor máximo de microplásticos nas águas, com 490 partículas por metro cúbico no verão. Já o valor mínimo registrado, também no verão, foi de 300 partículas por metro cúbico na porção da praia de Perequê-Açú, classificada como brava pela pesquisa.
Barra Seca também foi o local onde os peixes coletados apresentaram maior taxa de contaminação – cerca de metade dos indivíduos analisados tinham resquícios de material sintético no organismo. Isso indica a relação entre a concentração de partículas no ambiente e sua presença no organismo dos animais. Os pesquisadores explicam que a praia Barra Seca é mais calma e tende a acumular mais sujeira por conta do regime de correntes. Mattox pontua ainda que a praia de Barra Seca é o destino de desembocadura de rios, os principais aportes de resíduos e partículas plásticas que vêm do continente.
O perigo dos microplásticos
Os microplásticos, como o nome já sugere, são micro partículas de plásticos que podem ter de 1 a 5 milímetros. Apesar dos seus tamanhos, os microplásticos representam uma grande ameaça ambiental e também à saúde dos seres humanos.
Sua presença nos oceanos já preocupa cientistas há alguns anos, mas estudos recentes mostraram que os microplásticos já se concentram até no sangue humano. Isso porque eles estão presentes nos alimentos, como o peixe, ou em produtos embalados em plásticos, além de estarem na água e até no ar que respiramos.
O estudo que mostrou pela primeira vez a presença de microplástico no sangue humano foi conduzido por pesquisadores holandeses, que detectaram a presença da substância em 80% dos doadores anônimos analisados, todos adultos saudáveis.
O pesquisador Mattox reafirma que as consequências da presença de micropartículas sintéticas nos oceanos têm efeitos muito além dos imediatos. “Quando ingeridos pelos peixes, esses plásticos não são digeridos e vão se acumulando no organismo. Eventualmente, o peixinho pode morrer entupido de plástico”, diz. Além disso, podem haver graves repercussões para o ecossistema e para os seres humanos. “Qualquer animal que coma esse peixe vai comer o plástico que está dentro dele, inclusive os pescadores artesanais, ribeirinhos e caiçaras, por exemplo”, completa.
Os pesquisadores que encontraram microplásticos no organismo humano ainda não têm um consenso sobre as consequências dessa presença, mas estudos iniciais, baseados em modelos de cultura celular, mostram que a presença de microplásticos do nylon no tecido pulmonar pode afetar o desenvolvimento de células tronco pulmonares, prejudicando pulmões em desenvolvimento e a cicatrização das vias aéreas, segundo Luís Fernando Amato, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, em entrevista ao Jornal da USP.
Para evitar que esse cenário continue se perpetuando, os pesquisadores do estudo sobre microplásticos no litoral indicam que é necessário um esforço conjunto entre as autoridades e a população. “Esperamos que, com esses resultados, possamos fomentar políticas públicas no sentido de conscientizar a população e os tomadores de decisão para darem o destino adequado para o plástico e atuarem em prol dos famosos três Rs: redução, reutilização e reciclagem”, conclui Mattox.