Início Notícias Meio Ambiente

Estudo aponta: praias de Santos e São Vicente têm altos índices de contaminação por microlixo

“A expectativa é que no verão, com maior fluxo de pessoas nas praias, os níveis se tornem ainda mais altos”, revela o professor Ítalo de Castro, idealizador do projeto

Segundo pesquisa, as praias de Santos e São Vicente estão repletas de microlixos - Fotos: Ronaldo Bernardino/Divulgação

As praias de Santos e São Vicente apresentam altos índices de contaminação por microlixo e mesolixo. Esta é a conclusão de um estudo desenvolvido em parceria pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a ONG Instituto Mar Azul (IMA).

A pesquisa “Avaliação do microlixo nas praias de Santos: uma iniciativa de Ciência Cidadã” foi idealizada pelo professor doutor Ítalo Braga de Castro, docente e pesquisador da Unifesp, unidade Baixada Santista, e parcialmente financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O estudo investiga o tipo e a quantidade de micro e mesolixo nas praias que margeiam a Baía de Santos, durante as quatro estações do ano.

Pioneira no Brasil, a iniciativa consiste na realização de campanhas de limpeza de praia. Nessas ações, grupos de voluntários fazem coletas simultâneas em seis pontos da orla, nas praias de Santos e São Vicente.

As primeiras coletas aconteceram no outono e no inverno. É importante ressaltar que, nessas estações, as praias são menos frequentadas, o que faz os resultados serem mais preocupantes ainda.

“A expectativa, embora a gente precise confirmar isso, é que no verão, com maior fluxo de pessoas nas praias, tanto de munícipes quanto de turistas, os níveis se tornem ainda mais altos. Mas isso só vai ser confirmado quando a gente processar as últimas amostras coletadas”, destaca o professor Castro.

Ele explica que não existe consenso na literatura científica sobre as diferenças entre microlixo e mesolixo. “Convencionou-se que micro e mesolixo são aquela fração que está abaixo de 50 centímetros, sendo que o microlixo, em geral, é uma fração na faixa de 5 centímetros ou menos”.

Seriam papéis de bala, bitucas de cigarro, chicletes, tampinhas de garrafas, palitos de dente e de picolé, embalagens de produtos, por exemplo.

Papéis de bala, bitucas de cigarro, chicletes, tampinhas de garrafas, palitos de dente e de picolé, embalagens de produtos são exemplos do que é encontrado nas praias da região

Praias urbanas

Para o professor, a causa do problema tem relação direta com o fato de Santos e São Vicente serem praias extremamente urbanas. “Além disso, estão localizadas a uma relativa proximidade com a cidade de São Paulo, de modo que recebe um fluxo muito grande de turistas, tanto na temporada quanto ao longo do ano, nos feriados e finais de semana. Então, esse grande fluxo de pessoas e a proximidade com adensamentos urbanos, como a gente tem em Santos e São Vicente, favorecem com que os níveis de microlixo encontrados nas praias sejam tão altos”, relata.

Ainda de acordo com Castro, existe a ideia de desenvolver o estudo em praias de outras cidades da Baixada Santista. “A gente queria, por exemplo, ter a oportunidade de comparar as praias menos frequentadas do litoral paulista com as muito frequentadas”.

Ele acrescenta que a Baixada Santista tem algumas praias que estão localizadas dentro de unidades de conservação. “Nós gostaríamos de poder avaliar as condições nesses locais. No entanto, a logística do projeto para mobilizar as pessoas para fazer as coletas repetidas, ao longo de diversos períodos do ano, dificulta um pouco, porque tem um custo”, explica.

A primeira etapa do estudo foi financiada pela Fapesp, mas não há financiamento para estender o projeto a outras cidades da Baixada Santista.

“Nesse contexto, estamos, inclusive, contatando empresas, prefeituras, órgãos públicos que tenham interesse em financiar a pesquisa, até para poder produzir informação relevante para combater o problema”, acrescenta o professor.

Grupos de voluntários fazem coletas simultâneas em seis pontos da orla, nas praias de Santos e São Vicente

Publicação internacional

Os resultados completos do estudo serão divulgados em maio deste ano. A etapa seguinte vai ser submeter à publicação em um periódico científico internacional. “Isso é importante para que nossos resultados sejam chancelados. Quando isso acontece, o editor desse periódico envia o trabalho para uma revisão de grandes especialistas do mundo, eles emitem um parecer com sugestões, eu faço as correções e, finalmente, é publicado”, explica o professor.

Posteriormente, com o artigo publicado e já chancelado, será elaborado um relatório que será entregue às secretarias do Meio Ambiente das prefeituras de Santos e São Vicente, divulgando os dados e sugerindo ações tecnicamente embasadas.

“Os resultados vão nos dar um arcabouço de informações para poder sugerir ações que possam, eventualmente, ser implementadas para mitigar o problema”, projeta Castro.

Estímulo

O diretor presidente da IMA, Hailton Santos, destaca a importância do projeto. “A iniciativa irá qualificar e quantificar o microlixo nas praias que margeiam a Baía de Santos. Trará para a sociedade dados importantes, que irão aprimorar nosso trabalho, colaborar com a área acadêmica, auxiliar o poder público, na implementação de políticas de combate ao lixo do mar, assim como envolver conscientemente a população, estimulando o trabalho voluntário e a participação em atividades científicas.”

Ele ressalta que o IMA já atua há mais de sete anos nas praias de Santos e tem desenvolvido vários projetos, que incluem ações de limpeza nas praias e conscientização ambiental, além de projetos direcionados a escolas públicas e particulares, empresas e grupos de escoteiros. “O objetivo é mostrar o problema e inserir todos esses atores nesse processo e mudança de atitude”, completa.

Em relação a uma mudança de cultura, acerca da manutenção da limpeza nas praias, Hailton diz que o desafio é muito grande. “O problema é cultural. Essa mudança terá de vir de dentro de cada cidadão, entendendo que ele faz parte desse processo, que ele é responsável pela destinação correta do resíduo que gera. Devemos cobrar do poder público políticas que colaborem que essa causa também. Mas só a mudança de consciência, comportamento e atitude poderá colaborar para que tenhamos, a médio prazo, resultados positivos”, completa.

 

Sair da versão mobile