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Po Júlia Motta

O desenvolvimento acelerado da Inteligência Artificial e outras tecnologias digitais já está causando um impacto ambiental severo no meio ambiente. A conclusão é de um relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), órgão da ONU.

O Relatório da Economia Digital 2024 aponta como a IA e a mineração de criptomoedas consomem grandes quantidades de água, energia e minerais e contribuem para emissões de gases do efeito estufa e poluição.

O ChatGPT e o consumo de água

De acordo com o estudo, o treinamento do GPT-3 (Microsoft), um modelo de linguagem no qual o ChatGPT se baseia, consumiu diretamente 700 mil litros de água potável para resfriamento.

Em relação à mineração de Bitcoin, o consumo global de energia aumentou cerca de 34 vezes entre 2015 e 2023, atingindo 121 Terawatts.

Com esse cenário, a Unctad ressaltou a preocupação com o esgotamento de matérias-primas finitas para tecnologias digitais, além da crescente questão dos resíduos relacionados à digitalização.

O relatório ainda citou que, segundo o Banco Mundial, a demanda por insumos necessários para a digitalização, como grafite, lítio e cobalto, pode aumentar 500% até 2050.

Os impactos no Brasil

Com grandes reservas de recursos minerais de transição, como 26% do grafite natural, 19% de elementos de terras raras, 14% do manganês, 12% do níquel e 9% da bauxita, o Brasil é um dos centros de mineração que vêm devastando florestas.

Entre 2005 e 2015, de acordo com o relatório, cerca de 11.670 km² do desmatamento da floresta amazônica brasileira foi causado pela mineração. Isso representa cerca de 9% da perda total de floresta durante o período.

Segundo o Unctad, o manuseio e o descarte inadequados de resíduos digitais também exacerbam as desigualdades ambientais, impactando desproporcionalmente os países em desenvolvimento.

O levantamento realizado pela agência conclui que, embora a digitalização impulsione o crescimento econômico global e ofereça oportunidades únicas para os países em desenvolvimento, são eles que suportam um “fardo desproporcional”.

Emissões de CO2

Em 2020, as emissões de CO2 do setor de tecnologia da informação e comunicação foram estimadas entre 0,69 e 1,6 gigatoneladas, representando de 1,5% a 3,2% das emissões globais de gases de efeito estufa.

Com uma pegada ambiental já muito significativa, o órgão da ONU alerta que a tendência é aumentar ainda mais devido ao  crescimento da economia digital. Até 2028, espera-se que o número de objetos conectados à internet aumente para 35 bilhões. Em 2022, eram 13 bilhões.

Entre 2020 e 2021, os compradores online cresceram de menos de 100 milhões para 2,3 bilhões. A alta levou a uma subida de 30% nos resíduos relacionados ao digital de 2010 a 2022, atingindo 10,5 milhões de toneladas globalmente.

Desenvolvimento digital sustentável 

A secretária-geral do Unctad, Rebeca Grynspan, afirmou que o crescente impacto ambiental da economia digital “pode ser revertido”. Para isso, ela defende que é preciso pensar em uma abordagem equilibrada, que aproveite o “poder da digitalização para promover o desenvolvimento inclusivo e sustentável, mitigando ao mesmo tempo os seus impactos ambientais negativos”.

Rebeca acredita que a transição para uma economia digital circular deve ser caracterizada pelo “consumo e produção responsáveis, pela utilização de energias renováveis e pela gestão abrangente dos resíduos eletrônicos”. Nesse sentido, é preciso priorizar a reciclagem, reutilização e recuperação de materiais digitais.

A secretária ainda destacou que as nações em desenvolvimento, muito exploradas pelos seus recursos minerais, “arcam com o ônus, mas não colhem os benefícios” e que isso pode mudar.

O relatório do Unctad defende que os países se beneficiem das oportunidades que a economia digital apresenta, salvaguardando simultaneamente os interesses e o bem-estar das gerações atuais e futuras.