Por Ricardo Ribeiro, da Revista Fórum
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, escondeu intencionalmente da população do seu país a gravidade do coronavírus, de acordo com as declarações dadas pelo republicano em entrevistas para o jornalista Bob Woodward.
As conversas estão no novo livro de Woodward, “Rage” (raiva), que será lançado na próxima semana. As declarações de Trump foram divulgadas na quarta-feira (9) pelo jornal The Washington Post e pela rede de TV CNN, que tiveram acesso antecipado à obra.
No livro, Woodward diz ter conversado com o presidente no dia 7 de fevereiro. Dez dias antes, Trump tinha sido informado por seus assessores que a situação da crise gerada pela Covid-19 era gravíssima.
“Você apenas respira o ar, e é assim que [o vírus] se dissemina”, disse o presidente ao jornalista, por telefone. “Então, isso é muito complicado. Isso é muito delicado. É também algo muito mais mortal do que uma gripe forte. Isso é mortal”, completou Trump. O áudio foi divulgado.
No entanto, neste período, Trump afirmava em coletivas de imprensa que a pandemia não era tão grave e que a Covid-19 não era mais perigosa que a gripe comum. Apenas no fim de março o presidente começou a mudar de tom sobre a pandemia e passou a alertar publicamente para a gravidade da situação, ainda que de maneira errática.
O veterano jornalista Woodward é um dos mais respeitados dos EUA, conhecido por ter revelado, ao lado de Carl Bernstein, o escândalo de Watergate. A série de reportagens sobre o caso para o Washington Post, entre 1972 e 1974, causou a renúncia do então presidente Richard Nixon.
Líder de torcida
Após a divulgação das informações do livro, Trump alegou que estava tentando evitar o pânico, mas confirmou o conteúdo das conversas e admitiu ter dado falsas declarações para o público.
“Eu sou um líder de torcida neste país. Eu amo nosso país. Eu não quero que as pessoas tenham medo. Eu não quero criar pânico. Eu não quero levar este país à histeria”, disse Trump, em coletiva de imprensa na Casa Branca.
Perguntado se havia enganado os cidadão, o presidente admitiu que “no interesse de reduzir o pânico, talvez o tenha feito”.