O garoto Carlos Teixeira, que teria morrido após agressão na escola - Foto: Reprodução/Redes Sociais

A família do garoto Carlos Teixeira, de 13 anos, que morreu após sofrer agressões numa escola estadual de Praia Grande, no litoral de São Paulo, no início de abril, está recebendo ameaças de morte. O caso teve grande repercussão depois da revelação que a unidade educacional sabia que o aluno era alvo permanente de bullying e não tomava providências, assim como o fato de que a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do município liberou o garoto após várias passagens pelo local apresentando sintomas persistentes que poderiam ter relação com a violência sofrida.

As ameaças contra os pais de Carlos começaram a partir do momento que perfis na internet divulgaram imagens dos menores de idade supostamente envolvidos na agressão e de servidores públicos da Escola Estadual Professor Julio Pardo Couto, que de alguma forma estariam relacionados ao episódio. Dados pessoais dessas pessoas também foram disponibilizados na internet por indivíduos que, até onde se sabe, não têm relação de parentesco com o menino morto. A página teve mais de quatro milhões de visualização e acabou sendo apagada com a grande repercussão gerada.

De acordo com a advogada da família de Carlos, Amanda Mesquita, o perfil que fez a exposição de fato cometeu um erro grave ao expor menores, assim como por ter publicado fotos e dados de pessoas que não tiveram qualquer relação com o trágico evento. Ela explicou as publicações diziam que os familiares da vítima confirmavam a participação daquelas pessoas no caso, o que gerou uma onda contra os pais enlutados, que passaram a ser vistos como autores ou responsáveis pela publicação.

“Infelizmente, tem muitas pessoas que estão usando o caso do Carlinhos para ganhar engajamento na internet, o que é lamentável porque a gente está falando de uma criança que perdeu a vida e as pessoas estão usando isso para conseguirem curtidas, então isso demostra o quanto nossa sociedade está doente”, explicou a advogada num vídeo publicado no Instagram.

“A família do Carlinhos, a família dos meninos que estão sendo culpados, está todo mundo sendo ameaçado. E essas pessoas que estão sendo divulgadas estão correndo risco de morte. Os meninos estão sendo ameaçados, as famílias dessas pessoas estão sendo ameaçadas e, por consequência, a família do Carlinhos também está sendo ameaçada. Então, assim, virou uma bola de neve”, disse ainda Amanda.

Para a defensora, tudo que está ocorrendo, e os novos episódios envolvendo ameaças sistemáticas e generalizadas, acaba por impedir uma apuração rigorosa do que de fato ocorreu e ocasionou a morte do aluno adolescente.

“Eles [a família de Carlos] estão assustados porque estão tentando lidar com o luto e tem um turbilhão de coisas acontecendo enquanto isso. As pessoas estão curiosas para saber quem cometeu e isso atrapalha a própria investigação. Como as pessoas querem pedir justiça se elas estão atrapalhando o trabalho da Justiça?”, completou.

Relembre o caso

Um estudante de 13 anos de uma escola estadual de Praia Grande, no litoral de São Paulo, teria morrido uma semana após colegas de classe terem se jogado e ficado pendurados em suas costas. A afirmação é feita pelo pai de Carlos Teixeira, o porteiro Julisses Fleming, que de fato era alvo frequente de bullying na unidade de ensino.

De acordo com ele, no dia 9 de abril o menino precisou de atendimento médico após a agressão cometida pelos dois companheiros de escola. Ele o levou a uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Praia Grande, onde o garoto foi medicado e liberado em seguida. Na mesma semana, Fleming voltou mais duas vezes com o filho Carlos ao local, já que ele não parava de apresentar dor no tórax e dificuldade para respirar.

Com o agravamento dos sintomas, na segunda-feira (15), o pai levou Carlos à UPA de Santos. O médico que o atendeu o transferiu imediatamente para uma internação na Santa Casa de Misericórdia de Santos, onde o pré-adolescente foi intubado. No dia seguinte, terça (16), Carlos sofreu três paradas cardiorrespiratórias e morreu.

“Me sinto acabado e destruído. O meu filho estava sofrendo bullying. O meu menino estava em estado de pânico o tempo todo”, disse Fleming ao portal g1. O pai reiterou que tinha conhecimento que o menino vinha sendo agredido com certa frequência na Escola Estadual Professor Júlio Pardo Couto, que fica no bairro Nova Mirim.

De acordo com o atestado de óbito de Carlos, a causa da morte teria sido uma infecção pulmonar. Dois médicos ouvidos pelo g1, identificados como Carlos Machado e Marcelo Bechara, explicaram que, de fato, lesões no tórax, em vértebras da coluna e sobretudo em costelas, de origem traumática, podem provocar lesões no pulmão, que uma vez furado provocará uma dificuldade respiratória, causando acúmulo de secreção e líquido, o que em pouco tempo pode desencadear uma infecção.

O caso está a cargo do 1° Distrito Policial de Praia Grande, conforme comunicado emitido pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), que informou ainda que o corpo do menino passará por exame necroscópico para determinar de maneira mais específica que o causou o falecimento da vítima.