Uma jornalista, de 47 anos, denunciou ter sido vítima de injúria racial por funcionários de uma unidade da Drogasil, em Santos. Ela relatou que foi seguida e abordada na rua, com truculência, sendo acusada de ter furtado um desodorante.
A mulher, que optou por não se identificar, acionou a Polícia Militar (PM) e registrou boletim de ocorrência (BO). O estabelecimento fica à Avenida Pinheiro Machado, bairro Pompéia.
A vítima contou que entrou na Drogasil para comprar um desodorante, pois trabalha em uma campanha de marketing do produto. Quando voltava para casa houve a abordagem na rua, depois de não encontrar o produto nas lojas próximas.
“Levei um susto porque não entendi direito o que era. Um deles era muito truculento. Ele me intimidou, avançou na minha direção ao ponto de eu dar passos para trás. Como eu estava de fone de ouvido, não entendi direito o que ele queria”, afirmou a jornalista, em entrevista ao G1.
A mulher reiterou ter sido abordada e acusada por um segurança e um supervisor da farmácia de esconder o desodorante. “Fiquei transtornada”, afirmou ela, que negou as acusações e ameaçou acionar a polícia. Mesmo assim, o segurança insistiu que ela havia cometido o crime e pediu que voltasse à farmácia para verificar as câmeras de monitoramento.
“Ele foi me acusando o caminho inteiro, o supervisor tentando acalmar [o colega] e fazer com que eu fosse embora, com que eu desistisse, mas já tinha acontecido a acusação, a abordagem, o crime”, acrescentou a jornalista, que telefonou para a irmã advogada e para o marido.
“Provavelmente, ele se enganou”
Já de volta à unidade da Drogasil, ela disse: “Ele (supervisor) não admitia que tinham errado. Ele usava: ‘Provavelmente ele [segurança] se enganou’. Isso é uma segunda agressão”, avaliou.
“O que mais me entristeceu é que, se eu não fosse uma pessoa instruída e sabendo dos meus direitos, talvez não teria levantado a voz para ele e não teria enfrentado de igual para igual”, ressaltou.
O que diz a farmácia
A RD Saúde divulgou uma nota em que afirmou apurar o caso na unidade da Drogasil em Santos. “A empresa reafirma seu compromisso em promover um ambiente de zero discriminação e lamenta qualquer conduta que esteja em desacordo com as normas da companhia”.
Procon notifica Drogasil
O Procon de São Paulo encaminhou ao Folha Santista uma nota na qual informou que tomou priovidências sobre o caso. Leia a íntegra:
“A Fundação Procon-SP notificou a rede Raia Drogasil para esclarecer um episódio em uma unidade Drogasil na cidade de Santos, no litoral paulista, em que uma mulher negra foi abordada de forma que poderá ser caracterizada como racismo.
De acordo com informações veiculadas na imprensa e nas redes sociais, a mulher estaria pesquisando preços quando, ao sair do estabelecimento, foi acusada de furto, sem qualquer motivo aparente, e constrangida por seguranças e empregados da unidade.
O Procon-SP, que possui um canal específico para denúncias sobre atitudes racistas durante relações de consumo – o Procon Racial, pede informações sobre as providências adotadas após ter ciência do episódio, a participação de trabalhadores terceirizados e próprios, bem como ações de prevenção para evitar a repetição de casos semelhantes.
A notificação também pede que a Raia Drogasil identifique a empresa da qual contrata serviços de segurança, para que esta também seja notificada a prestar esclarecimentos.
O Procon-SP entende que as empresas precisam adotar protocolos de prevenção a práticas racistas em suas unidades, bem como realizar capacitação de seus trabalhadores, próprios ou terceirizados, constantemente.
A Raia Drogasil terá até o dia 29/10 para enviar as informações. E o Procon-SP, independentemente de quaisquer outras ações, convidará a empresa a aderir aos 10 princípios para o enfrentamento do racismo nas relações de consumo, a exemplo do que vem fazendo com outras organizações”.