A escritora, filósofa e ativista santista Djamila Ribeiro divulgou, em suas redes sociais, uma ameaça sofrida por sua filha adolescente, por intermédio de uma mensagem no celular.
“Sua mãe é uma desgraça! Você não tem vergonha de ser filha dela? Nós sabemos onde sua mãe mora! Não tem arrego!”, diz a ameaça.
Djamila resolveu registrar um boletim de ocorrência (BO) na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo. A Polícia Civil está investigando o caso.
Veja a íntegra da mensagem de Djamila:
Já faz tempo falo sobre como o Twitter é uma rede tóxica para mulheres negras. Segundo pesquisa da Anistia Internacional, mulheres negras estão 84% mais propensas a receberem tweets problemáticos do que mulheres brancas.
Segundo a tese de doutorado do PHD em Sociologia Luiz Valério Trindade, as mulheres pretas são as maiores vítimas de discurso de ódio nas redes sociais em geral e no Twitter, em particular. Ele explica que isso se dá pelo incômodo que a ascensão e protagonismo delas causa em uma sociedade racista e machista.
Eu recebo muitas mensagens odiosas, as quais nunca me abalaram. Porém, ontem enviaram mensagens odiosas para a minha filha. Isso se deu por conta de fake news produzidas no Twitter desde a semana passada. Mais uma vez, essa rede social lucrando com o ódio, como afirma Adilson Moreira, trata-se da exploração econômica do racismo e misoginia.
Eu fiz um B.O. (foto 2), pois é inadmissível que esse tipo de perseguição aconteça, agora direcionada a uma adolescente.
Críticas são no campo das ideias, quando fazem afirmações caluniosas de que tal pessoa é contra uma categoria, trata-se de ataque irresponsável que pode colocar essa pessoa em risco.
Friso que respeito todas as identidades, mas ser negra é para além da cor da pele. É preciso tornar-se negro no sentido político ou como diz a professora afro-francesa Maboula Soumahoro, “precisamos diferenciar negros que decidiram ser negros”.
Isto significa dizer que ser negra politicamente é jamais aceitar o jogo da branquitude colonial para atacar desonestamente uma mulher preta que faz um trabalho sério; é saber que há um histórico de linchamento contra pessoas negras; é não se deixar usar pelos verdadeiros ricos que nos querem tuteladas ou subalternas. Precisamos fazer essa diferenciação.
Por mais execráveis essas pessoas sejam, friso que, como disse na live, nunca ameacei processar ninguém, o que se trata de mais uma fake news. Meu foco é representar o Twitter no MP, uma empresa bilionária, que lucra com ataques sem defesa a mulheres negras. Farei parte da Campanha Internacional “Stop hate for profit” e denunciarei de forma global. Gratidão pelo carinho que recebi. Ogun Pá wá.