Uma história que ainda não teve fim. Assim pode ser definido o que aconteceu com o velejador Edison Gloeden, de 66 anos. Por volta das 14h30 do dia 15 de janeiro de 2023, a bordo do seu veleiro, o “Sufoco III”, Alemão, como é conhecido, deixou a marina do Clube Internacional de Regatas, na Ponta da Praia, em Santos, para um passeio na região. Nunca mais voltou.
O veleiro, comandado por Alemão, velejador experiente, ainda chegou a ser avistado pelo navegador Marcelo Parizi Araujo, que conduzia a embarcação “Despacito”, às 14h40 do dia 15, próximo à Ilha das Palmas, sem vela, navegando por motor. Depois disso, desapareceu.
Alemão, que não costumava sair sozinho para velejar, resolveu testar o funcionamento do piloto automático da embarcação, que havia sido consertado dias antes.
O caso mobilizou a Baixada Santista. Desaparecido, o velejador foi procurado durante dias no mar, até que, a dedução das autoridades é que ele havia morrido.
A partir de então, se intensificou o martírio da companheira de Alemão, a professora aposentada Maria de Fátima Calaca Alves, de 67 anos.
Além de não saber o que, de fato, ocorreu com o marido, com quem vivia em comunhão estável havia 35 anos, ela não conseguiu provar na Justiça que ambos formavam um casal.
“É uma situação muito ruim, que não desejo para ninguém”, afirmou Fátima, em entrevista à coluna Histórias do Mar, de Jorge de Souza, no UOL.
“Não posso nem dizer que sou viúva, porque, neste momento, aos olhos da lei, nem companheira dele por três décadas e meia eu fui”, declarou, indignada com o descaso da Justiça de São Paulo.
Após o desaparecimento de Alemão, ela ingressou com o processo de união estável, que, aliás, está parado até hoje.
“Enquanto minha união estável não for reconhecida pela Justiça, não posso nem dar entrada no processo da morte presumida do Edison, já que ele não deixou outros herdeiros que possam pleitear isso. Ou seja, para fins legais, ele permanece vivo, o que não deixa de ser outro absurdo”, destacou Fátima.
Além da lentidão da Justiça, a questão é que o pedido de reconhecimento de união estável só foi realizado depois do desaparecimento do velejador.
“Se a nossa situação civil estivesse regularizada antes do desaparecimento dele, ficaria só a dor da perda. Mas, agora, além disso, há também indignação e impotência, por depender da Justiça até para provar que perdi o meu marido”, desabafou.
“Felizmente, não estou passando dificuldades financeiras, porque tenho onde morar e vivo com o dinheiro da minha aposentadoria. Mas e as mulheres cujos companheiros também desaparecem e não têm como provar que viviam juntos?”, questionou a professora.
“Não mereço passar por isso também, depois do tanto que já sofri com o desaparecimento dele”, acrescentou.
Barco também não foi encontrado
“Se, ao menos, o barco dele fosse encontrado, talvez fosse menos difícil conseguir um atestado de óbito. Mas nem isso aconteceu até hoje. A análise do barco poderia ajudar a explicar o que pode ter acontecido com ele. Até hoje me pergunto isso, todos os dias”, lamentou Fátima.
“Eu preciso saber como a vida do Edison terminou. É como parar de ler um livro na metade e jamais conhecer o final da história”, disse, emocionada.
O que pode ter ocorrido
Logo depois do desaparecimento de Alemão, autoridades apontaram três possibilidades em relação ao que pode ter acontecido com ele: a embarcação naufragou, o velejador caiu no mar ou sofreu um mal súbito, embora ele não tivesse nenhum problema de saúde.
Por isso, a suposição mais provável é que Alemão tenha sofrido uma queda acidental no mar, pois ele estava sozinho e, portanto, não havia ninguém que pudesse ajudá-lo.
Enquanto isso, a professora Fátima ainda sonha com notícias para que, enfim, essa história tenha um final.