O movimento Aliança Nacional LGBTI+ divulgou nesta terça-feira uma nota de repúdio e pedido de retratação do jogador Neymar Jr, do PSG. O Ministério Público de São Paulo recebeu um pedido de prisão de autoria do ativista LGBTQ+, Agripino Magalhães, que aponta o atleta e um grupo de amigos de crime de homofobia e formação de quadrilha.
Confira a nota divulgada:
“O assunto de hoje é sobre futebol, sim, sobre futebol, quem foi que disse que nós LGBTI+ não falamos sobre o que rola nos gramados e também fora deles? Pois bem, o jogador do Paris Saint-Germain (PSG), Neymar Junior, proferiu ofensas homofóbicas contra o namorado de sua mãe, o modelo Thiago Ramos.
Na passada sexta feira, 5 de junho de 2020, o jornalista Leo Dias, do Metrópolis, publicou um áudio atribuído a Neymar, em que ele conversa com amigos em uma transmissão através da plataforma de jogos online, e comenta sobre uma suposta briga que teria ocorrido entre a mãe e o padrasto.
Porém, a conversa não ficou apenas no que poderia ser apenas a suspeita de ter ou não ter ocorrido um desentendimento entre o casal. O assunto passou para esfera da ofensa, onde Neymar questiona com seus amigos a veracidade do relato da mãe em dizer que a briga fora apenas um acidente, e a partir desta fala começa a se referir ao padrasto com os termos “viadinho”, “da c* do car**lho”.
O áudio vazado nas redes sociais revela uma pitada a mais de homofobia nas falas dos amigos de Neymar, que sugerem ao jogador do PSG darem um “jeito” no modelo até mesmo com indicações de castigos típicos das eras medievais, sugerindo introduzir um cabo de vassoura no ânus do padrasto.
Dado este relatado, nós da Aliança Nacional LGBTI+ nos dirigimos diretamente ao brilhante jogador brasileiro Neymar Júnior: nós não o queremos como inimigo e muito menos como opositor, a causa LGBTI+ precisa que a cada instante mais forças sejam somadas para juntos vencermos a LGBTIfobia.
Sabemos que a desinformação pode destruir vidas e as estatísticas não nos deixam mentir e colocam o Brasil no ranking dos países que mais mata LGBTIs, um país onde a cada dia mais e mais pessoas Trans e Travestis são assassinadas e postas à margem da sociedade, sendo marginalizadas pelas próprias famílias. Os efeitos de discursos como o seu que circula nas redes sociais semeiam ódio contra a população LGBTI+, mesmo quando não intencionalmente. Todos os anos no Brasil mais de 300 pessoas LGBTI+ são assassinadas somente por serem LGBTI+. Para muitos/as adolescentes LGBTI+, as escolas são um inferno: pesquisa nacional de 2016 mostrou que 60% se sentiam inseguros/as, 73% foram agredidos/as verbalmente e 36% foram agredidos/as fisicamente na escola no último ano por serem LGBTI+. Outra pesquisa baseada em dados oficiais do Ministério da Saúde, o “Atlas da Violência”, produzido pelo IPEA, demonstrou um aumento do total de casos violência contra LGBTI+ a partir de 2016, de entre 10,0% e 15,7%, em um único ano, quando a vítima era homossexual e, considerando as vítimas bissexuais, o crescimento anual de casos foi ainda maior, ficando entre 30,9% e 35,3%.
O lugar de destaque que você representa faz como que seja influência a milhões de pessoas espalhadas pelo mundo, e sua voz pode transformar a forma de pensar de todos estes. Vale a pena pensar que nós LGBTIs não somos diferentes de vocês apenas por direcionarmos nossa forma de afeto a alguém do mesmo sexo, ou por sentirmos o amor de forma diferente do que a sociedade entende como correto, todos somos membros de uma mesma família, de uma mesma nação, pagadores de impostos (cujo dinheiro não tem diferença alguma do que heterossexuais ganham), trabalhadores e trabalhadoras que merecem respeito.
Talvez você pense que sua fala não seja nada demais que um comentário infeliz, mas tenha a certeza que ela é se tornou mais uma das formas de se afiar a faca do preconceito, que matará uma lésbica, uma pessoa trans, um gay…
Sabe Neymar, esta publicação não é apenas uma forma de nos posicionarmos publicamente com repúdio a sua fala, que mesmo em esfera privada acaba por representar sua forma de pensar, demonstra seu caráter quando as câmeras não estão ligadas, é um convite a você e todos os seus “parças” à reflexão e ao entendimento, para que assim entendam que ser LGBTI+ não é um problema, não é um demérito, há quem diga que é até uma qualidade, até porque quando se trata de bom gosto nós é quem somos procurados, não é verdade?
A vida proporciona momentos importantes de aprendizado para todos e acreditamos que este seja o seu momento, de permitir que seu pensamento seja forjado de maneira ampla, que se dispa de todos os preconceitos e possa entender somos pessoas absolutamente normais, seres humanos integrais e que “viadinho” é um animal que pode ser encontrado no cerrado e até mesmo no pantanal e pertence à família Cervidae.
Assim como a Confederação Brasileira de Futebol já é, que tal ser um de nossos parceiros na luta contra a homofobia? Que diga-se de passagem fora enquadrada como crime de racismo no ano passado através do Mandado de Injunção (MI) 4733 e da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) 26, pela mais alta corte de justiça do país, o Supremo Tribunal Federal (STF). Valendo salientar que tais crimes são inafiançáveis e imprescritíveis.
Bem, nobre amigo, se assim nos permite chamar-lhe, estaremos sempre de braços abertos para ajudar a você e quem mais quiser a compreender melhor a diversidade humana, porém sua fala foi bem forte é de extrema importância que faça um pedido público de desculpas, afinal não ofendeu apenas ao seu padrasto, mas a toda comunidade LGBTI+.
Além de tais pontos, é importante salientar que caso não se retrate em um prazo de 10 dias, oficializaremos a Fédération Internationale de Football Association – FIFA e todas as empresas que patrocinam sua carreira, afinal não é justo que a imagem de nenhum produto ou serviço seja atrelada a um discurso tão ofensivo e, segundo determinação do STF, enquadrado no crime de racismo sujeito a todas as medidas judiciais cabíveis.
09 de junho de 2020
Toni Reis
Diretor Presidente da Aliança Nacional LGBTI+
Marcel Jeronymo Lima Oliveira
OAB/PB 15.285 – OAB/PR 100.312
Coordenador Nacional da
Área Jurídica da Aliança Nacional LGBTI+
Pr. Gregory Rodrigues Roque de Souza
Coordenador Estadual da Aliança Nacional LGBTI+ em MG
Coordenador Nacional de Notas e Moções da Aliança Nacional LGBTI+
Onã Rudá S. Cavalcanti
Coordenador Titular da Área Esportiva da Aliança Nacional LGBTI+
Agripino Magalhães
Afiliado e Colaborador da Aliança Nacional LGBTI+ em São Paulo