No dia 2 de julho, reportagem da Folha de S.Paulo divulgou que várias cidades do país, incluindo Santos, aplicaram vacinas da AstraZeneca contra a Covid-19 com prazo de validade vencido. A princípio, a prefeitura negou, mas, em seguida, teve de admitir o fato.
A falha grave ocorreu em três unidades terceirizadas e administradas pelo Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz (ISHAOC): Complexo Hospitalar dos Estivadores, Ambulatório Médico de Especialidades Dr. Nelson Teixeira (Ambesp) e Hospital de Campanha Vitória.
A constatação corrobora a opinião do médico infectologista, Marcos Caseiro. Logo que foi publicada a informação da aplicação dos imunizantes vencidos, ele afirmou ser “muito improvável” que profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) tivessem cometido uma falha dessa proporção.
“Isso é um erro gravíssimo. Tem culpa o farmacêutico responsável por acondicionar as vacinas e tem culpa quem aplicou as doses fora do prazo. As pessoas que são treinadas no SUS, profissionais de carreira, não fariam isso, não aplicariam vacina com data vencida”, avalia Caseiro.
“Esse pessoal recebeu a vacina e guardou por três meses. Conforme recebiam imunizantes novos, ao invés de usarem os antigos, foram utilizando os mais novos e os outros venceram. Isso é um absurdo”, critica o médico.
Caseiro reitera que esse tipo de procedimento não acontece no SUS. “As pessoas nas salas de vacinação são treinadas para tudo. Isso ocorreu, certamente, em decorrência desse processo desenfreado de terceirização, no qual as pessoas não são treinadas nem para essas pequenas coisas. Isso não pode acontecer”, completa.
Ministério Público
A vereadora Telma de Souza (PT), presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Santos, também criticou o que classifica como desorganização do sistema de Saúde do município que, para ela, traz sérios riscos à população no meio de uma grave pandemia.
“A aplicação de vacinas com validade vencida é muito grave. Além de colocar pessoas sob risco de contaminação, é vexatória a falta de veracidade nos esclarecimentos da prefeitura, que havia negado o ocorrido. A administração foi desmentida por funcionários. A prefeitura colocou essas pessoas em risco e deixou a população em dúvida”, avalia.
Telma relata que procurou pessoalmente o secretário municipal de Saúde, Adriano Catapreta. Ela cobrou rápidos esclarecimentos sobre o caso.
“Também insisti no rastreamento de todas as vacinas dos lotes indicados e requisitei, na condição de presidente da Comissão de Saúde, cópia de todos os documentos referentes à aplicação das vacinas AstraZeneca. Tudo isso será encaminhado ao Ministério Público, que poderá cobrar as devidas responsabilidades”, afirma.
O que diz a prefeitura
O Folha Santista pediu um posicionamento da prefeitura a respeito do caso. Em nota, a administração municipal divulgou seu posicionamento.
“A Secretaria Municipal de Santos enviou, na última quarta-feira (7), 360 doses da vacina Oxford/AstraZeneca ao Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz (ISHAOC). Na quinta-feira (8), os profissionais de saúde vinculados ao Instituto receberam uma dose extra do imunizante, conforme protocolo do Ministério da Saúde publicado dia 7.
Essa medida foi adotada após rastreamento realizado pela prefeitura do lote 4120Z005 e identificação de aplicação de imunizante fora do prazo de validade.
O lote foi recebido pelo município em 26 de janeiro de 2021 e distribuído no mesmo dia para os equipamentos de saúde para atendimento exclusivamente aos profissionais da saúde. Esses hospitais ficaram responsáveis pela armazenagem, controle, registro e aplicação da vacina.
O município segue com a sindicância, aberta no dia em que houve a divulgação do caso, para apurar todas as responsabilidades”.
O que diz o Oswaldo Cruz
O Folha Santista também solicitou posicionamento do Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Vejam a íntegra da nota da instituição.
“O Complexo Hospitalar dos Estivadores, o Hospital de Campanha Vitória e o Ambulatório Médico de Especialidades Dr. Nelson Teixeira (AMBESP), no município de Santos, informam que 320 colaboradores foram revacinados até o final da tarde da última sexta-feira, dia 9 de julho de 2021. A revacinação continuará disponível nos próximos dias, até que todos recebam o imunizante.
Esses colaboradores são profissionais da saúde que receberam uma dose da vacina do lote 4120Z005, depois de 14/4/21, que é a data de vencimento. Considerando a recomendação técnica vigente dos órgãos competentes, as unidades seguiram o caminho da revacinação com uma dose.
A ocorrência foi comunicada à Secretaria de Saúde do Município de Santos e todas as providências de acolhimento e proteção aos trabalhadores estão sendo tomadas. Desde a descoberta da vacinação com o lote vencido, em 2 de julho de 2021, as unidades realizaram busca ativa dos colaboradores e contato individual, com monitoramento e acompanhamento, canal direto 24 horas para dúvidas, além de apoio psicológico e teleconsulta com infectologista”.