O aumento significativo no número de mortes por Covid-19 em Santos, nos últimos sete dias, assustou o médico infectologista Marcos Caseiro, que atua na Secretaria Municipal de Saúde e é professor da Faculdade de Medicina da Unilus e do curso de pós-graduação da Unisanta.
Entre os dias 8 e 14 de setembro, houve dez óbitos na cidade em consequência do coronavírus. Já entre os dias 15 e 21, foram registradas mais que o dobro, ou seja, 24 vítimas fatais da doença.
“Isso é uma tragédia, um aumento absurdo. Certamente, os motivos são múltiplos. O principal deles é que, na verdade, flexibilizou geral. Você anda na cidade, nas praias e as pessoas relaxaram total. Hoje, a gente observa filas, amontoados de gente nos bares e restaurantes. Não estão usando mais máscara, liberaram geral, com a falsa sensação de segurança. Isso assusta”, avalia Caseiro.
Ele ressalta que a doença ainda causa de 800 a mil mortes diariamente no Brasil. Só em Santos, por enquanto, houve mais de 600 óbitos. “Tiveram os fins de semana com sol e as pessoas descendo para a Baixada Santista de forma absurda. Perdeu-se o controle no sentido de manter o distanciamento”, ressalta o médico.
No início da pandemia, reflete Caseiro, as pessoas com mais idade, acima de 60 anos, que são quase um quarto da população de Santos, se preservaram. No entanto, agora, com essa sensação de que está tudo normal, com as pessoas se expondo dessa forma, haverá, certamente, aumento maior de mortes, destaca o infectologista.
Caseiro se diz inconformado com o comportamento, não só do santista, mas do brasileiro em geral. “Não é possível, são mil mortes por dia ou mesmo que tenha baixado para 800, é uma barbaridade, é uma tragédia. As pessoas tinham que ficar incomodadas com isso o tempo inteiro. Nós tivemos mais de 600 mortes aqui em Santos. As pessoas tinham que ficar incomodadas, mas eu vejo que elas isolaram esse pensamento na cabeça”.
Ele volta a criticar a postura das pessoas diante de um cenário tão trágico. “A população perdeu a empatia, eu não diria nem medo, a população está desconsiderando essas mortes todo dia, o que realmente me assusta. Não entendo como as pessoas não se sentem, de alguma maneira, agredidas com essas mortes. É um reflexo do que a gente está vivendo, de uma política comandada por um presidente genocida, que faz um elogio à morte”.
Segunda onda
Em relação à ocorrência de uma segunda onda da Covid-19, o infectologista acrescenta se tratar de um fenômeno que está ocorrendo no mundo inteiro. “Israel fez lockdown, a França voltou atrás com abertura de escolas, a Espanha também reverteu na questão do isolamento e abertura de comércio. É o efeito bumerangue, como também é chamado”, completa.