Por Sindicato Popular, na Revista Fórum
Coorte na terminologia acadêmica e uma amostra controlada de um grupo de indivíduos que têm em comum um conjunto de características como idade, localização geográfica, condição física, estatuto social etc.
Estudos de coorte fazem parte do grupo de estudos observacionais de cunho epidemiológico que se propõem a observar, em uma população previamente definida, qual será a incidência de determinada doença ou fenômeno relacionado à saúde ou doença.
Em 2009, durante a epidemia de H1N1, o governo Lula criou o Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe). Trata-se de um banco de dados nacional de domínio público com pacientes dos sistemas público e privado. Com a chegada da Covid-19 ficou estabelecido que o Sivep deveria ser o sistema para registro de todos os casos da doença que evoluem com desconforto respiratório.
Foi a partir do levantamento no Sivep que um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) levantaram 82.055 pacientes pediátricos internados com suspeita de Covid-19.
Desse total, 11.613 (14,2%) tiveram a infecção por Sars-CoV-2 (Covod-19) confirmada em laboratório e foram incluídos na amostra (coorte). A maioria (10.041) pacientes pediátricos que corresponde a 86,5% recebeu alta do hospital e 886 (7,6%) morreram no hospital, em média seis dias após a admissão na unidade. Cerca de 3,2% que corresponde a 369 pacientes estavam internados no momento da análise, e não havia informações sobre desfecho em 317 casos (2,7%). A probabilidade estimada de morte foi de 4,8% durante os primeiros 10 dias após a internação, 6,7% nos primeiros 20 dias e 8,1% ao fim do estudo. Esta foi a maior coorte em pacientes pediátricos com covid-19 realizado até o momento, nenhum outro estudo sobre o tema valeu-se de uma população pediátrica tão grande.
O estudo foi publicado na última quinta-feira (10/06) na prestigiada revista científica The Lancet Child and Adolescent Health. Com o título de “Características clínicas e fatores de risco para óbito em crianças e adolescentes hospitalizados com COVID-19 no Brasil: uma análise de um banco de dados de abrangência nacional“, assinado por um grupo de pesquisadores da UFMG, Unimontes e da Universidade da Califórnia San Diego. A pesquisa foi dirigida pelos professores do Departamento de Pediatria Eduardo A. Oliveira, Ana Cristina Simões e Silva e Maria Christina Lopes, contou ainda com a participação do professor Enrico Colosimo, do Departamento de Estatística (UFMG), dos docentes da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) Hercílio Martelli-Júnior e Daniella Barbosa Martelli, do pesquisador Robert Mak, da Universidade da Califórnia San Diego, e da estudante da Faculdade de Medicina e bolsista da iniciação científica pelo CNPq Ludmila R. Silva.
Desigualdades sociais impactam na mortalidade também das crianças
O Brasil já e o segundo pais em mortalidade pela Covid-19, o território onde mais grávidas e mulheres no puerpério que contraíram Covid-19 vieram a óbito. Agora, comparada a outros países, a alta taxa de mortalidade da Covid-19 em pacientes pediátricos no Brasil alerta-nos pra esse recorde de mortalidade na pandemia também entre as crianças.
Chamou a atenção dos pesquisadores o fato de que no Reino Unido, a mortalidade de crianças hospitalizadas por Covid-19, todas com comorbidades, foi de 1%, enquanto que, no Brasil, a pesquisa da UFMG mostra que a covid-19 matou quase 8 vezes mais ( 7,6%).
Para os pesquisadores as desigualdades sociais, como os poucos recursos disponíveis para a assistência à saúde, incluindo a pequena disponibilidade de UTIs pediátricas, impactam no desfecho da doença em crianças brasileiras.
Entre os fatores de risco para maior mortalidade, foram identificadas a idade, a etnia, a macrorregião geográfica de origem e a presença de comorbidades.
Quanto à faixa etária, a mortalidade foi maior entre menores de dois anos e em adolescentes (12 a 19 anos).
No recorte geográfico, os pacientes pediátricos das regiões Nordeste e Norte do país também tiveram maior risco de desfecho adverso, na comparação com os da região Sudeste e Sul, regiões com maior oferta de UTis pediátricas.
As crianças indígenas apresentaram pelo menos o dobro de risco de morte em relação às de outras etnias e estão em condições de maior vulnerabilidade à Covid-10 tanto em relação ao tratamento como também à prevenção.
A cada doença pré-existente (comorbidades) a pesquisa mostra que houve aumento progressivo da incidência de mortes: quanto maior o número de comorbidades, maior a incidência de óbitos nos pacientes pediátricos.
A pesquisa analisou apenas dados de crianças hospitalizadas, ou seja, que contraíram formas moderadas e graves da doença e cujos dados foram informados ao Sivep.
De acordo com a Comunicação da UFMG, a equipe já trabalha na avaliação do impacto da covid-19 em pessoas com doenças e comorbidades específicas, como indivíduos transplantados ou com doenças crônicas.
Com informações da UFMG