Cemitério Público Nossa Senhora Aparecida, em Manaus - Foto: Alex Pazuello/Semcom Manaus/Fotos Públicas

Por Fabíola Salani, da Revista Fórum

Um estudo publicado na plataforma médica MedRxiv sugere que Manaus pode ter atingido o grau de imunidade comunitária – ou de rebanho – para o novo coronavírus.

A pesquisa mostra que a transmissão do Sars-CoV-2 na capital do Amazonas atingiu 45% em meados de maio, no ápice da infecção na cidade. Um mês depois, o percentual de infectados teria atingido 65%. Nos dois meses seguintes, teria se estabilizado em torno de 66% da população.

Para os autores do estudo, essa taxa de infecção “excepcionalmente alta” sugere que a imunidade comunitária – ou de rebanho – pode ter contribuído significativamente para essa estabilização, que se configurou no tamanho final da epidemia na cidade.

Manaus foi a cidade do país com alta mais acelerada logo no início da pandemia. Cenas de covas coletivas sendo feitas em cemitérios municipais, para dar conta do sepultamento dos mortos pela doença, chocaram.

O estudo é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e ainda não foi revisado por pares. Ele se baseia em uma combinação de modelagem matemática e análises sorológicas feitas em amostras de sangue doado.

“Ao que tudo indica, a própria exposição ao vírus levou à queda no número de novos casos e de óbitos em Manaus”, disse Ester Sabino, coordenadora da pesquisa, à Agência Fapesp. “No entanto, nossos resultados indicam uma soroprevalência bem mais alta do que a estimada em estudos anteriores”, afirmou Ester, que é professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Conclusão

Para a conclusão, os pesquisadores avaliaram amostras de sangue doadas à Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam), entre os meses de fevereiro e agosto.

A prevalência bruta encontrada na pesquisa, ou seja, sem nenhum tipo de correção, variou de 0,7% em março, para 5,5% em abril, 39,9% em maio, 46,3% em junho, 36,5% em julho e 27,5% em agosto. Com os ajustes do modelo matemático aplicado pelos pesquisadores, os números estimados foram respectivamente: 0,7%, 5%, 45,9%, 64,8%, 66,1% e, novamente, 66,1%.

“Algo que ficou evidente em nosso estudo – e que também está sendo mostrado por outros grupos – é que os anticorpos contra o SARS-CoV-2 decaem rapidamente, poucos meses após a infecção” disse Lewis Buss, um dos autores do estudo, à Agência Fapesp. “Isso está claramente ocorrendo em Manaus, o que mostra a importância de fazer medidas seriadas para entender a evolução da doença”, afirma.

O estudo completo foi publicado na plataforma MedRxiv.

*Com informações da Agência Fapesp