Foto: Prefeitura de Barueri

O governo do estado de São Paulo, comandado por João Doria (PSDB), determinou que o retorno obrigatório às aulas presenciais ocorra na próxima segunda-feira (18).

A medida será anunciada oficialmente na tarde desta quarta (13), durante a entrevista coletiva sobre a pandemia do coronavírus. Os municípios não são obrigados a seguir a determinação, fica a critério das prefeituras optar ou não pelo retorno presencial às aulas.

Além disso, o governo Doria vai anunciar o fim do distanciamento mínimo de 1 metro entre os alunos a partir do dia 3 de novembro. As máscaras continuam obrigatórias e apenas crianças e adolescentes com atestado médico poderão ficar em casa.

A ocupação de 100% do espaço já estava liberada pelo governo estadual. A medida também vale para o ensino privado.

Negacionismo

A deputada estadual e presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), professora Bebel (PT), criticou a determinação do governo Doria.

“O desprezo pela vida e pela saúde da comunidade escolar atingiu o auge com a anunciada decisão do secretário da Educação, Rossieli Soares, de obrigar a volta às aulas presenciais para 100% dos estudantes, sem distanciamento social”, destacou Bebel.

Além disso, a parlamentar classificou a decisão como negacionista. “Trata-se de absurdo negacionismo, num momento em que a pandemia da Covid-19 ainda mata uma média de 500 pessoas diariamente no país, sendo que já ultrapassamos 600 mil mortes desde o início da pandemia”, disse a deputada e educadora.

Por fim, Bebel afirmou que “o secretário da Educação, o governador do estado e demais autores dessa decisão são responsáveis por todas as suas consequências”.

Crianças e adolescentes

O retorno com 100% de ocupação dos espaços escolares e sem distanciamento entre os estudantes também divide opinião entre os médicos. Há uma parcela que defende o retorno e afirma que os dados atuais da pandemia permitem uma volta segura.

O médico infectologista Marcos Caseiro discorda de tal posição e afirmou que seria melhor imunizar as crianças e adolescentes e retomar as aulas presenciais em 2022.

Caseiro citou o exemplo da Inglaterra que, ao retomar as aulas presenciais, teve um surto do vírus entre os estudantes e trabalhadores da educação e teve de voltar atrás.

“Na Inglaterra, eles retornaram às aulas e voltaram a suspender por causa do aumento importante do número de casos atribuídos ao retorno às aulas”, analisou o infectologista.

Em seguida, Caseiro explicou que dá aula em duas universidades e relatou como tem sido o controle nas instituições.

“Eu dou aula em duas universidades de medicina que, praticamente, 100% das pessoas foram vacinadas. Em uma das faculdades a gente faz exame a cada três dias. Todo mundo para entrar na faculdade tem que fazer o nasal com pesquisa de antígenos. Detectamos quatro casos entre os funcionários, que foram enviados para casa. Não tivemos nenhum momento de parada de aula por causa de casos dentro da universidade. A outra faculdade não fez isso e tivemos alguns casos, tivemos que parar por uma semana”, revelou.

Sobre o retorno às aulas no estado de São Paulo, Caseiro chamou a atenção para o fato de que a maioria das crianças e adolescentes não está vacinadas. “Nós não estamos com as crianças vacinadas plenamente, essa é a primeira questão. Para voltar às aulas seria interessante que o governo fizesse essa testagem, que é um processo muito tranquilo de ser feito”, criticou.

“Ainda que a doença seja de baixa gravidade na maioria das vezes para as crianças, a gente não pode esquecer que as crianças acabam sendo um reservatório que leva a doença para casa, para os seus pais e ainda que estes pais estejam vacinados, a gente sabe que essa proteção não é de 100% para algumas vacinas”, salientou o médico.

Além disso, Caseiro destacou o fato de que o ano escolar já está no fim e que, ao invés de obrigar os estudantes a retornarem às salas de aula, o governo deveria fazer uma força-tarefa para imunizá-los.

“Nós estamos no dia 13 outubro. Nós temos novembro e dezembro, quer dizer, o que a gente vai ganhar voltando nessa velocidade em outubro. A gente poderia esperar um pouco mais, garantir a vacinação dessas crianças. A gente já pode vacinar crianças a partir de 12 anos com Pfizer. Além do mais, tem outra questão importante: deve ser aprovado, já foi submetido para aprovação a liberação da vacina da Pfizer para crianças de 3 a 12 anos de idade. Então, valeria a pena esperar um pouco mais, não temos que correr esse risco”, criticou.

Marcelo Hailer
Jornalista (USJ), mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP) e doutor em Ciências Socais (PUC-SP). Professor convidado do Cogeae/PUC e pesquisador do Núcleo Inanna de Pesquisas sobre Sexualidades, Feminismos, Gêneros e Diferenças (NIP-PUC-SP). É autor do livro “A construção da heternormatividade em personagens gays na televenovela” (Novas Edições Acadêmicas) e um dos autores de “O rosa, o azul e as mil cores do arco-íris: Gêneros, corpos e sexualidades na formação docente” (AnnaBlume).