João Neves - Fotos: Francisco (Las Flores)

“O receio e a angústia são muito grandes, os dias não passam. Os dias têm 30, 40, 50, 100 horas. A mistura de sentimentos é enorme, mexe demais com a cabeça.” É dessa forma que o surfista de São Vicente, João Neves, em entrevista ao Folha Santista, define sua situação.

Confinado em El Salvador, por conta da pandemia do coronavírus, que cancelou todos os voos no país, João, corretor de imóveis de 44 anos, tinha passagem marcada para voltar no dia 1º de abril, mas desde 17 de março está em quarentena imposta pelo governo local. Ele continua sozinho, em uma pousada localizada em El Cuco, na Praia de Las Flores.

“Meu voo foi cancelado pela companhia aérea (Avianca) e recebi a notícia que marcariam a passagem somente para o dia 5 de maio. Desde a semana passada estou impossibilitado de sair para comprar comida ou qualquer coisa necessária”, diz.

João revela que tem recebido ajuda dos moradores locais. A responsável pela pousada permite que ele use a cozinha e a internet. O brasileiro explica que uma pessoa vai ao Centro e faz a compra da semana. “Sou só eu de hóspede desde o dia 17”, destaca ele, que chegou a El Salvador no dia 4 de março com três amigos e, desde o dia 12, está sozinho.

“Minha situação é muito delicada. As autoridades do Brasil (embaixada) já estão sabendo do caso, mas não há nenhuma perspectiva concreta que aconteça algum voo ou alguma data para antecipar o retorno ao Brasil. Não só meu, mas das 160 pessoas que estão aqui na América Central”, acrescenta.

João explica, ainda, que a comunicação onde ele está é muito difícil. “Às vezes o wi-fi some e é o único meio que tenho para me comunicar com as pessoas.”

João Neves foi surfar em El Salvador e não consegue voltar ao Brasil por causa da pandemia do novo coronavírus

Almoço-janta

João diz que tem se alimentado com o café da manhã e um “almoço-janta”, em torno das 17 horas. “Consiste em macarrão, ovo e frango. Não é nada que seja insuportável pelos próximos 30 dias, se for necessário. Apenas é totalmente diferente do nosso dia a dia.”

João não esconde o desânimo. “Hoje não vejo perspectiva de sair daqui, de me locomover, de ir ao encontro dos outros brasileiros. Também não sei se isso seria bom, pelo fato de estar isolado e imune às coisas que estão acontecendo no mundo. Só me resta aguardar a boa vontade das autoridades brasileiras e ter força, fé, paciência e acreditar que tudo é possível”, completa.

Assista ao vídeo com depoimento do brasileiro João Neves:

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