O Instituto Butantan pode exportar doses da CoronaVac, imunizante contra o novo coronavírus, a outros países, caso não receba sinalização do governo Jair Bolsonaro (sem partido) sobre se vai comprar outros lotes do produto. O diretor-presidente do instituto, Dimas Covas, disse nesta quarta-feira (27) que um ofício foi enviado na semana passada ao Ministério da Saúde, sobre se vai ou não comprar mais 54 milhões de doses da vacina, mas até agora não obteve retorno.
O contrato firmado entre o instituto e o ministério prevê a entrega de 46 milhões de doses da CoronaVac até abril, com possibilidade de aquisição de outras 54 milhões. O documento diz que o governo deve se manifestar se quer ou não comprar esse lote extra 30 dias após a entrega da última vacina da remessa inicial. Essa entrega é prevista para até 30 de abril.
Covas afirmou que o instituto tem acordo com outros países na América Latina para a venda da CoronaVac e que está sendo cobrado por eles para dar um cronograma de entrega das doses. “Se houver a confirmação do Ministério da Saúde, teremos um planejamento para produzir mais 40 milhões aos países vizinhos. Se não tiver, vamos dirigir essas 54 milhões de doses aos países vizinhos”, disse.
A Folha Santista questionou o Ministério da Saúde sobre a manifestação do Butantan, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. A outros veículos, a pasta disse que irá se pronunciar sobre o ofício dentro do prazo estipulado em contrato. Também lembrou que existe um contrato de exclusividade entre governo federal e Butantan e que a venda deste lote extra só pode ser feita se a União desistir da compra.
Guerra das vacinas
O episódio é mais um do conturbado relacionamento entre governo Bolsonaro e Butantan, ligado ao governo João Doria (PSDB), desafeto político do presidente, em torno da CoronaVac.
Doria firmou contrato com a Sinovac, farmacêutica chinesa que desenvolveu o imunizante, em julho. Com o acordo, o Butantan liderou os testes em voluntários no Brasil e passaria a poder fabricar as doses no Brasil.
Em outubro, Bolsonaro chegou a dizer em redes sociais que seu governo não compraria a “vacina chinesa de João Doria”. O governo federal apostava na vacina Oxford/AstraZeneca, que será fabricada no país pela Fiocruz.
Houve uma disputa velada entre os dois políticos sobre quem seria “vencedor” na guerra das vacinas.
O contrato com o Butantan acabou assinado meses depois, com a previsão de entrega de 46 milhões de doses até abril e outras 54 milhões adicionais. E, quando a vacinação foi iniciada no Brasil, só havia doses da CoronaVac disponíveis.
Com informações de Exame.com