Leonardo de Carvalho Leal e Mayara Stelle, do Sleeping Giants Brasil - Foto: Reprodução/Facebook

Alvo de teorias da conspiração, de que teriam “um grande mecanismo por trás” para derrubar a monetização de sites que propagam fake news e discursos de ódio, o Sleeping Giants Brasil (SGB) saiu do anonimato e surpreendeu a internet na madrugada deste domingo (13).

Criado às 5 horas de uma segunda-feira há cerca de sete meses em um laptop sem bateria, o Sleeping Giants Brasil é obra do casal de namorados Leonardo de Carvalho Leal e Mayara Stelle, ambos com 22 anos, que cursam o sétimo período de Direito em uma faculdade federal de Ponta Grossa, no interior do Pará.

Leal atuava como motorista de Uber até bater o carro no início do ano. Mayara trabalhava como vendedora de cosméticos, mas não conseguiu levar o negócio adiante por causa do fechamento dos salões de beleza da cidade. Atualmente, os dois têm como única fonte o auxílio-emergencial pago pelo governo Jair Bolsonaro.

Após publicação de uma reportagem na coluna de Mônica Bergamo, na edição deste domingo (13) da Folha de S.Paulo, Leal e Mayara, que estão juntos desde os 15 anos e moram com os pais, saíram do anonimato no próprio perfil do SGB nas redes.

“Prazer eu sou a @mayara_stelle e #EuSouSleepingGiantsBrasil. Prazer eu sou o @leonardodcleal e eu #EuSouSleepingGiantsBrasil. O Sleeping GIants Brasil é um movimento de 570 mil consumidores brasileiros, agradecemos a todos o apoio dado até aqui!”, diz a sequência de tuítes publicado aos 24 minutos desta madrugada, que ainda agradece à Mônica Bergamo e ao também jornalista Ivan Finotti.

“E pra quem quer um spoiler do que virá: o movimento não vai parar!”, diz a sequência.

Fim do anônimato

Na reportagem, o casal conta que deixou a casa dos pais, no interior do Paraná, e está hospedado em São Paulo por um amigo para revelarem a identidade.

“Tivemos que nos distanciar das famílias para mantê-los seguros. Minha família é muito distante da internet, são pessoas mais velhas, é difícil até explicar o que nós estamos fazendo. Então, optamos por sair do anonimato longe deles. Neste momento estamos na casa de um amigo, em São Paulo”, conta Mayara.

O casal conta que desde a criação, já teriam desmonetizado mais de R$ 1,5 milhão de sites que propagam o ódio, principalmente ligados à extrema direita.

O primeiro alvo foi o Jornal da Cidade Online, site bolsonarista que move ação judicial para que o SGB abra o anonimato. Eles listam ainda os sites Conexão Política e Brasil Sem Medo, além do canal de Olavo de Carvalho no YouTube e o grupo paramilitar 300 do Brasil, de Sara Winter.

O casal diz que, diferente do que as hordas bolsonaristas propagam pela internet, não tem atuação política e cita o alerta ao Porta dos Fundos, que tirou do ar um vídeo que mostrava misoginia contra uma vereadora eleita de direita, após ser alertado pelo perfil.

“A gente não olha se o site é de esquerda ou de direita. Infelizmente, sabemos que o discurso de ódio está presente em todos os espectros políticos. O que acontece é que, nesse momento, não dá para negar que a extrema direita tem um alcance de desinformação muito maior que a esquerda”, diz Mayara.

“O Jornal da Cidade Online é a página de notícias do Facebook que tem maior engajamento sobre o coronavírus. Mais do que a Globo, do que a Folha, do que o Estadão. Quanto mais acesso o site tem, mais dinheiro ele vai ganhar. Então, os dois critérios são muito objetivos: a quantidade de conteúdo fake e o alcance que esse conteúdo tem”, complementa Leal.

Autorizados por Matt Rivitz, criador do movimento Sleeping Giants, o casal pretende expandir o trabalho após sair do anônimato, mesmo diante de ameaças – inclusive de morte – que já sofrem pelo perfil do SGB.

“Nesse momento não temos estrutura. A saída do anonimato pode abrir inúmeras portas e no futuro podemos trabalhar em outras áreas, como essa”, disse Leal ao responder se atuariam também contra “empresas brasileiras que trabalham com ditaduras que desrespeitam os direitos humanos”.