Dados da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio Contínua (PNAD-Contínua), divulgados nesta sexta-feira (19) pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que o Brasil chegou ao porcentual recorde de pessoas que vivem com rendimentos que não são do trabalho em 2020.
Longe do discurso de Jair Bolsonaro (Sem partido), da defesa do trabalho como fonte de renda, quase 60% da população viviam do dinheiro de programas sociais, aplicações financeiras ou benefícios como seguro desemprego, Auxílio Emergencial ou Bolsa Família – o Auxílio Brasil começou a ser pago nesta semana, sem ser contabilizado ainda na pesquisa.
Segundo o IBGE, apenas 40,1% da população (84,7 milhões) viviam com renda proveniente do trabalho.
O percentual é o mais baixo desde o começo da série com recorte anual. Em 2019, período pré-pandemia, a marca havia sido de 44,3% (ou 92,8 milhões).
Número de pessoas que dependem de programas do governo explode
Segundo o IBGE, De 2019 a 2020, a proporção de domicílios com pessoas recebendo outros programas sociais saltou de 0,7% para 23,7%, aumentando em todas as regiões, sobretudo no Norte (0,5% para 32,2%) e Nordeste (0,8% para 34,0%).
O Auxílio Emergencial, pago durante a pandemia, entrou na rubrica de “outros rendimentos” definida pelo instituto, que viu cair a proporção de domicílios que recebiam o Bolsa Família (de 14,3% para 7,2%), pois parte dos beneficiários passou a receber o benefício transitório.
O número de pessoas com outras fontes de renda saltou de 16,4 milhões em 2019 para 30,2 milhões (de 7,8% para 14,3% da população) em 2020.
Pela primeira vez, desde 2012, o grupo dos outros rendimentos superou o das pessoas que recebiam aposentadoria e pensão (26,2 milhões ou 12,4%).
De 2019 para 2020, os outros rendimentos ganharam participação na composição do rendimento domiciliar per capita no Brasil, passando de 3,4% para 7,2%. Já o peso do rendimento de trabalho caiu de 74,4% para 72,8%. Também caíram, no período, os rendimentos de aposentadoria ou pensão (de 18,7% para 17,6%), aluguel e arrendamento (de 2,4% para 1,5%) e pensão alimentícia, doação ou mesada (de 1,2% para 0,8%).
Queda no valor médio mensal
O rendimento médio real de todas as fontes caiu 3,4%, passando de R$2.292 em 2019 para R$2.213 em 2020. O maior valor estava no Sudeste (R$2.575) e o menor, no Nordeste (R$1.554), a única região onde não houve queda.
O rendimento de outras fontes caiu 15,4%, baixando ao menor valor (R$1.295) desde 2012.
Segundo o IBGE, das 211,1 milhões de pessoas residentes no Brasil em 2020, 128,7 milhões (61,0%) tinham algum tipo de rendimento. A maior proporção estava na Região Sul (65,4%), enquanto Norte e Nordeste tinham os menores percentuais (54,6% e 57,3%, respectivamente). Frente a 2019, apenas o Norte teve variação positiva, passando de 53,4% para 54,6% no período.