Por Adriana Mendes*
A primeira vez que uma mulher votou no Brasil foi em 1880. A dentista Isabel de Mattos Dillon foi a pioneira, que aproveitou uma brecha da Lei Saraiva, na legislação brasileira. A lei, de 1880, dizia que todo brasileiro possuidor de um título científico poderia votar. E Isabel Dillon exerceu seu direito e solicitou sua inclusão na lista de eleitores do Rio Grande do Sul. Mas logo mudaram a lei e apenas homens com títulos tinham o direito ao voto. O primeiro país que garantiu o voto feminino foi a Nova Zelândia, em 1893, graças ao movimento sufragista liderado por Kate Shepard. No Brasil, somente em 24 de fevereiro de 1932, no governo de Getúlio Vargas, o voto feminino no Brasil foi assegurado.
Aqui somos 52% da população e mães de todo o resto. Por que tão pouca representatividade nas câmaras, assembleias e no Congresso? Com essas angústias e inquietações, o Coletivo Vote Nelas, do qual sou co-fundadora, realizou uma pesquisa qualitativa sobre mulheres candidatas, de 14 partidos e de todas as regiões do Brasil.
A Jornada da Candidata foi lançada em São Paulo e agora estamos levando os resultados para vários estados e cidades do País. As barreiras são muitas quando uma mulher resolve se candidatar, a começar pela falta de apoio familiar (“política é coisa de homem”, “pra que vai se meter em política?). Mas todas, as eleitas e não eleitas, não se arrependem e consideram a experiência transformadora.
Na semana passada, estive em Vitória (ES), para apresentar a Jornada da Candidata e foi impressionante o número de mulheres interessadas a se candidatar e, mais do que isso, em se eleger. E também a quantidade de homens querendo apoiar uma candidatura feminina. Na sequência já fui convidada para fazer a mesma apresentação em tempo maior. O homem que me convidou disse que precisamos de mais mulheres, líderes comunitárias, de associações, que também se vejam como candidatas.
Nesta semana estivemos no Instituto Federal de SP/Hortolândia, eu e a relações internacionais Amanda Brito, também co-fundadora do Vote Nelas. Foi gratificante ver tantos jovens, garotos e garotas, interessados em política e na representatividade feminina. Percebo, quanto mais falo com essa geração em que muitos que terão seu primeiro voto em 2020, como estão mais abertos, dispostos e igualitários.
Quanto mais eu vou a esses encontros e seminários, mais percebo como as mulheres estão interessadas em participar mais efetivamente da política, decidindo. Elas começam a ver seu destaque, seu valor na sociedade.
Nossa jornada seguirá até agosto, quando as candidaturas serão apresentadas. Até lá queremos mostrar que a igualdade nos locais de poder faz uma sociedade mais justa. O Brasil não é “homem branco”, queremos ver mulheres no poder, mulheres negras, mães, indígenas.
Vocês podem continuar dando flores e bombons no dia 8 de março, mas preferimos o seu voto em mulheres, neste ano de eleições tão importantes.
*Adriana Mendes é jornalista, integrante dos Coletivos Vote Nelas e Mães na Luta, ativista pelo desarmamento.