Foto: Arquivo Pessoal

Violência doméstica, lesão corporal, ameaça e injúria. Essas são os crimes pelos quais o diretor de tecnologia da informação (TI) da Câmara Municipal de Praia Grande, Paulo César Vieira, será julgado nesta segunda-feira (27). O caso aconteceu em 2020, envolvendo ele e a ex-esposa. À epoca, Paulo foi preso em flagrante.

O site de A Tribuna teve acesso ao inquérito criminal que narra que o fato aconteceu no apartamento do casal, que ficava no bairro da Guilhermina, na mesma Praia Grande, na manhã do dia 8 de dezembro de 2020. Chamada para ir no local, a Polícia Militar (PM) encontrou a suposta vítima, de 42 anos, dentro de um carro afirmando que estaria com medo de Paulo.

Aos policiais, a mulher relatou que está em processo de separação e o estatuário estaria ficando na casa da mãe dele, mas o homem não aceitava o fim do relacionamento e vinha lhe ameaçando de morte. Também disse que, no dia seguinte, Paulo teria ameaçado jogá-la da escada com uma faca.

Ao longo das discussões, a suposta vítima contou aos agentes que Paulo a ameaçava, ao dizer que se ela não fosse dele, não seria de mais ninguém. Na ocasião, a mulher descreveu que estava com um copo na mão, que ele pegou, quebrou e ‘partiu para cima’ dela, lhe causando um corte no dedo da mão direita. Conforme o documento policial, a suposta vítima estava com uma vermelhidão nos braços. Por este motivo ela foi levada ao Hospital Irmã Dulce, onde foi atendida e liberada.

Na sequência, ela ressaltou que chamou uma amiga para dormir com ela por medo e a mesma testemunhou os fatos. Porém, na época, Paulo negou a versão da mulher e disse que foi até o local apenas para conversar. O funcionário alegou que o corte no dedo dela foi causado por um pedaço de vidro que voou e a acertou.

Após prestar depoimento, Paulo foi preso em flagrante por conta de um laudo do Instituto Médico Legal (IML) que resultou em positivo para lesão leve. No dia seguinte, ele foi solto em uma audiência de custódia e uma medida protetiva foi expedida em favor da ex-mulher.

Julgamento

Quase três anos após o caso, a suposta vítima, com medo, afirmou que se viu obrigada a sair da Praia Grande após o registro como forma de se distanciar o máximo possível do estatutário.

“Já chorei, por relembrar, estou nervosa e estou revivendo tudo aquilo de novo. Para mim, é muito difícil, mas estou feliz por ter essa força para relatar e continuar com o caso. Ele conseguiu o endereço da minha avó no Rio de Janeiro e apareceu lá. Como? Eu não sei. Ele é muito bom em computação e, para mim, ele cutucou até achar”, relatou a suposta vítima pedindo por Justiça.

A mulher reforçou o fato de ser muito difícil ser mulher e conviver com um agressor, ao relembrar o motivo do julgamento. Além disso, citou que tudo foi planejado por Paulo e viveu momentos assustadores ao lado do ex-marido. A suposta vítima disse que as agressões começaram por ciúmes, devido às roupas que ela usava para sair de casa. Por essa razão, ela já foi trancada em sua própria residência e empurrada, tal como foi forçada a retirar queixas contra Paulo, após a mãe dele pedir diante da chegada da PM.

O fim do relacionamento se deu após a descoberta de uma traição, segundo a suposta vítima. Ela afirmou que encontrou no celular de Paulo conversas sobre uma relação que ele mantinha desde a adolescência. “Ele sempre vinha, pegava no meu braço, me apertava e depois vinha pedir desculpa”.

Com a medida protetiva em mãos, a mulher acusou o advogado de Paulo, Valdemar dos Santos, de ser o interlocutor entre o ex-casal. Nas negociações, ela relatou que foi ameaçada de ser acusada de furto caso não retirasse a queixa contra o estatuário que comanda o setor de TI na Câmara.

O que diz a acusação?

A acusação contra Paulo na audiência de segunda-feira (27) será feita pelo Ministério Público (MP). No entanto, a advogada e ex-vereadora de Praia Grande, Janaina Ballaris, foi procurada pela vítima para lhe instruir sobre o caso e participar da audiência para acompanhar a sessão.

“É um absurdo que um servidor da Câmara seja contemplado com um cargo de comissão. Gosto de acompanhar a vítima para garantir seus direitos. Ela está muito vulnerável, chorou muito e acabou sofrendo tudo de novo. Ela disse que se sentiria segura se eu pudesse acompanhar”, explicou Janaína ao site de A Tribuna

A advogada ressaltou que a mulher não sabia nada sobre o andamento do caso e que a audiência aconteceria sem a presença dela, pois a suposta vítima não conseguiu ser citada pela mudança de endereço. A representante da acusadora ainda estuda quais medidas serão adotadas futuramente.

O que diz a defesa?

Valdemar dos Santos, integrante da defesa de Paulo e assessor parlamentar na Câmara de Praia Grande, refutou todas as acusações feitas pela suposta vítima e garantiu que o cliente dele nunca bateu na ex-esposa. De acordo com o advogado, a mulher é atriz com registro profissional e está atuando. “Não sei como a Rede Globo ainda não descobriu essa mulher”, brincou.

“Ele queria se separar dela. Quando eles casaram, ele já tinha um imóvel próprio. Eles se conheceram e casaram em seis meses. Começaram essas desavenças por questões financeiras. Foi depois que as coisas foram se encaixando. Ele registrou até um boletim sobre o furto dos móveis da casa dele”, ressaltou o advogado.

“Era tudo dele”, disse Valdemar, ao insinuar que tudo se trata de uma estratégia montada pela suposta vítima para conseguir mantê-lo preso por pelo menos 24 horas para que ela conseguisse contratar um caminhão de mudanças e retirasse os móveis de dentro do local sem a presença de Paulo. “Foi uma questão planejada. Ela exigiu dinheiro dele para aceitar o divórcio”.

Valdemar comentou que o divórcio do casal foi litigioso, ou seja, por meio de ajuizamento de ação, pois a suposta vítima chegou a pedir mais de R$ 30 mil para assinar o documento. Eles tentaram negociar, mas não deu certo, relatou o advogado. O defensor também negou a traição relatada pela mulher.

Com relação às agressões, o advogado destacou que a mulher é mais alta e tem um corpo mais atlético do que Paulo, sendo biologicamente improvável que sofria agressões. Ao contrário. O advogado acusou a vítima de ser a agressora no relacionamento. Ele acrescentou que o estatutário disse que, em várias ocasiões, foi trabalhar com uma série de arranhões e machucados.

A Reportagem de A Tribuna entrou em contato com a Câmara Municipal de Praia Grande e o Ministério Público (MP) para um posicionamento sobre o caso. Até aqui, porém, não obteve um retorno até a publicação desta matéria.

Com informações do site de A Tribuna